Autorizada recentemente no Brasil por conta do coronavírus, telemedicina já conquistou os franceses

Atualizado em 27 de março de 2020 às 19:44
Telemedicina. Foto: Reprodução

Publicado originalmente pelo RFI:

A pandemia de coronavírus fez explodir o número de consultas a distância na França. O sistema de telemedicina, com o uso de câmeras e aplicações via smartphone, tem se tornado a principal solução para os pacientes, já que as autoridades pedem que apenas as pessoas apresentando um quadro clínico avançado se dirijam aos hospitais, sobrecarregados.

Enquanto no Brasil a Câmara dos Deputados acaba de aprovar, nesta quarta-feira (25), o projeto de lei que autoriza o uso da telemedicina em caráter emergencial, em resposta à crise sanitária provocada pelo coronavírus, na França a prática já faz parte do cotidiano de uma parte da população desde setembro de 2018. Foi nesse momento que Doctolib, site de marcação de consultas líder no setor, seguido por outras plataformas on-line, passaram a disponibilizar um sistema de consultas por vídeo.

Mas o recorde de procura vem sendo registrado com a pandemia de Covid-19. Segundo as autoridades francesas, 80 mil consultas foram realizadas no país entre os dias 16 e 22 de março, duas vezes mais que o registrado durante todo o mês de fevereiro.

Serviço facilitado pelo governo, que reembolsa as consultas

Desde o início do mês o governo facilitou o acesso a esse tipo de prática, autorizado qualquer um que apresente os sintomas do Covid-19 a marcar uma consulta por vídeo sem ter que passar antes por seu médico de família – como acontece geralmente para consultas com especialistas na França. Além disso, desde sábado (21), o dispositivo é 100% reembolsado pelo Seguridade Social. De acordo com o ministério da Saúde, essas medidas ficarão em vigor enquanto durar a epidemia de coronavírus.

Do lado dos prestadores, um esforço também foi feito para tornar o sistema mais atrativo. O site Doctolib, por exemplo, decidiu tornar gratuito o serviço, que até então custava € 79 euros para os médicos. O número de profissionais que aderiu ao sistema foi multiplicado por dez e o número de consultas por telemedicina multiplicou por 100.

“Desde o início da epidemia os médicos têm privilegiado a telemedicina e as autoridades sanitárias favorecem esse dispositivo”, explica Stanislas Niox-Château, presidente de Doctolib. Afinal, o sistema impede que os pacientes tenham que encontrar seus médicos nos consultórios ou se dirijam aos hospitais, multiplicando o risco de contaminação nas salas de espera.

Pacientes se acostumaram rápido

“Para minha surpresa, os pacientes se acostumaram muito rápido”, relatou esta semana a clínica geral Tura Milo à imprensa francesa. “No início, era um pouco difícil diferenciar uma gripe do Covid-19, mas há sintomas que não enganam e agora é muito fácil fazer um diagnóstico”, explica a médica. Segundo ela, entre 30% e 50% dos casos que tem recebido é casos ligados à pandemia.

O professor Nicholas usou o sistema pela primeira vez esta semana. Desconfiado com a aparição de sintomas que poderiam ser do coronavírus, e sem conseguir marcar um horário com seu médico habitual, ele optou pela telemedicina com uma clínica geral que o atendeu rapidamente. “Fiquei satisfeito com o lado prático. Não serve para todo tipo de consulta e especialidade, mas é tão fácil que tem tudo para dar certo e se banalizar”, comentou após terminar sua consulta via smartphone e receber uma receita pronta para ser enviada para a farmácia.

Segundo Niox-Château, em apenas alguns dias a França, junto com a China, se tornaram os primeiros países do mundo em termos de telemedicina. Mas o presidente de Doctolib insiste que, apesar da democratização da prática, adubada pela pandemia, o sistema nunca vai substituir um exame clínico tradicional. “Trata-se de uma ferramenta complementar para acompanhar os pacientes e ganhar em termos de conforto”, pondera. Mas que tem sido bastante útil em tempos de coronavírus.