Auxílio de R$ 150 permite a uma pessoa se alimentar por sete dias

Atualizado em 28 de junho de 2021 às 21:09
Supermercado na zona sul do Rio de Janeiro.

Publicado originalmente no Vermelho.org

Por Mariana Branco

O novo valor do auxílio emergencial, de R$ 150, é suficiente para comprar os produtos da cesta básica por apenas uma semana. O cálculo foi feito a partir da cesta básica mais cara do país em maio, registrada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para Porto Alegre, no valor de R$ 636,96.

A coordenadora de Preços do Dieese, Patrícia Lino Costa, ressalta que este valor da cesta é calculado para alimentar apenas uma pessoa. Levando em consideração o período de um mês, é preciso aproximadamente R$ 21 por dia para arcar com os produtos da cesta. Gastando diariamente este valor, o auxílio emergencial de R$ 150 não duraria mais do que sete dias.

O Portal Vermelho também simulou compras por um aplicativo em três supermercados do Distrito Federal para ver o que seria possível levar gastando R$ 150. Foram pesquisados itens básicos de alimentação, como arroz, feijão, carne, café, leite, margarina, frutas e hortaliças.

Em dois desses supermercados foi feita a opção por levar 1kg de carne bovina, o que deixou pouco espaço para outras opções de proteína. Em um deles, o valor do quilo de acém moído – a carne bovina mais barata disponível – era R$ 39,90 e foi possível acrescentar 1 kg de filé de peito de frango ao custo de R$ 19,79. Em outro, o valor do quilo de acém moído chegava a R$ 46 e também foi possível incluir mais uma proteína: 1kg de filezinho sassami, por R$ 16,39.

Na simulação de compra em que não foi incluída carne bovina, foi possível aumentar a quantidade de carne na compra de 2 kg para 3 kg – sendo 1 kg de bisteca suína congelada a R$ 14,90; 1 kg de asa de frango resfriada a R$ 24 e 1 kg de coxa e sobrecoxa recheada a R$ 13.

No entanto, 3 kg representam apenas metade do consumo estimado mensal de carne para uma única pessoa, que é de 6 kg, quantidade usada como base pelo Dieese de acordo com o Decreto nº 399 de abril de 1938, o mesmo que instituiu o salário-mínimo e determinou seu cálculo com base em necessidades básicas de alimentação, moradia, educação e lazer.

Nos três supermercados, foi necessário desistir de alguma coisa para não estourar o orçamento (veja detalhes abaixo). Na primeira compra, que totalizou R$ 150,11, não sobrou dinheiro para pão e leite. Na segunda, no valor de R$ 150,44, não deu para incluir frutas e verduras. Na terceira, que totalizou R$ 151,89, faltaram café, frutas, verduras e pão.

A terceira compra foi a que menos rendeu: seria possível adquirir apenas sete itens com o valor do auxílio emergencial. Na primeira e segunda, foram 13 e 10 itens, respectivamente.

“Os alimentos estão subindo e, por mais que você tente substituir, não consegue. Todos os tipos de carne e os ovos estão subindo, por causa da maior demanda. As pessoas não conseguem comprar a carne de primeira e vão para a carne de segunda, que fica mais cara. Como a carne de segunda está mais cara, compram frango. Aí o frango encarece e compram ovo”, comenta Patrícia Lino Costa.

Segundo ela, as carnes também estão mais caras devido às elevadas exportações de milho, usado na alimentação tanto de frangos quanto de vacas. Como o dólar está em um patamar alto, compensa exportar, o que acaba encarecendo o milho no mercado interno. O recuo recente do dólar não foi suficiente para mudar a situação.

“O dólar começou a baixar no final do mês passado, para ficar em torno de R$ 5. Ainda não é um dólar que favorece. É um valor ainda alto”, diz Patrícia Lino Costa.

Ela lembra, ainda, que não são só os preços dos alimentos que estão pressionando a renda das famílias. “O gás está mais caro por conta da política de preços da Petrobras e a energia vai subir também. É uma inflação generalizada e muito focada em produtos essenciais, que as pessoas não conseguem substituir”, afirma a economista.

Confira as três simulações de compras com R$ 150:

Supermercado 1

5 kg arroz – R$ 16,99 (arroz Cereal, marca mais barata)

5 kg feijão carioca a R$ 5,70 o Kg – R$ 28,50 (feijão Dona Dê, marca mais barata)

1 kg acém moído – R$ 39,90

1 kg filé de peito – R$ 19,79

1 óleo de soja – R$ 13,29

1 margarina Qualy 500 g – R$ 6,99

1 café 3 Corações 500g – R$ 10,49

2 pacotes espaguete 500 g – R$ 4,78

2 sachês de molho de tomate – R$ 1,98

1 kg Maçã – R$ 5,90

1 kg Pepino – R$ 4

1 kg batata -R$ 3

1kg sal – R$ 1,49

Total: R$ 150,11

Total de itens: 13

Não sobrou para: Leite, pão

Supermercado 2

Arroz 5kg – R$ 19,90 (marca Painho, na promoção)

5kg Feijão carioca Camil a R$ 8,99 – R$ 44,95

1 kg bisteca suína congelada – R$ 14,90

1 kg asa de frango resfriada- R$ 24

1 kg cocha e sobrecoxa resfriada – R$ 13

Óleo de soja Liza – R$ 7,79

Margarina Doriana – R$ 5,79 (promoção)

Café 500g 3 corações – R$ 9,10 (promoção)

2 l leite longa vida integral Jussara – R$ 6,58 (marca mais barata)

Pão de fôrma Wickbold Tradicional 4,49

Total: R$ 150,44

Total de itens: 10

Não sobrou para: Frutas e verduras

Supermercado 3

Arroz 5 kg Camil – R$ 26,99

Feijão 5 kg Qualitá a R$ 7,79 o kg – R$ 38,95 (marca própria)

Óleo Liza – R$ 7,99

Acém moído 1 kg – R$ 46

Filezinho Sassami 1kg – R$ 16,39

Margarina Vigor – R$ 7,19

2 litros de leite longa vida integral Jussara- R$ 7,58

Total: R$ 151,89

Total de itens: 7

Não sobrou para: Café, frutas, verduras, pão