“Babaca”

Em Londres: não está fácil ser independente no Brasil

Vejo uma mensagem à espera de minha avaliação aqui no Diário.

“Babaca”, diz ela.

Quem assina é Marcelo, que participou da Marcha pela Ética, ontem em São Paulo.

Bem, primeiro. A internet demanda que você tenha um moderador de comentários, ou estará expostos a ataques como aquele. É como se a pessoa chegasse à sua sala – ou seu blog – e simplesmente começasse a insultá-lo.

Viriam outros comentários. Os relativamente educados publiquei.

Mas o pior foi no Facebook. Eu tinha sido adicionado – sem pedir — ao grupo Marcha pela Ética, imagino pelos artigos que escrevi pedindo na política brasileira a “common decency”, ou decência básica, de George Orwell. O episódio Palocci foi repugnante.

Fui, durante 43 minutos, objeto de sucessivas agressões no grupo Marcha pela Ética. Não fui eu quem marcou o tempo. Foi uma mulher da turma. Um texto meu – falo dele a seguir – foi postado para as pessoas e da Marcha e fui obrigado a suportar uma massa de ofensas até conseguir me desligar do grupo.

Demorou mais que o esperado porque, no iPhone que eu estava usando, não havia como sair do grupo. Tive que pegar o laptop. “QI de ostra”, disse uma participante depois que, sem achar a saída, eu pedi que me tirassem urgentemente de lá. Não me tiraram, embora fosse fácil. O objetivo era prolongar meu acesso às agressões contra mim. “Morri de rir”, “raras vezes me diverti tanto”, essas foram algumas expressões publicada pelos participantes.

Não me diverti tanto assim, mas aprendi muito sobre o grupo.

O que provocou tamanha ira? Eu disse que, sem caráter ecumênico, a marcha perdia valor. Um foco exclusivo no PT não fazia sentido.

Veja bem. Escrevi antes da marcha. Não disse que ela se concentrara no PT. Apenas alertei para o risco. Vi isso depois de ler algumas postagens no Facebook. Numa, alguém se declarava com orgulho “ptfóbico”. Uma das pessoas que escreveram para o Diário acrescentou a seu nome  — diminutivo, na verdade — “foralula”.

O que vi na reação a meu texto não foi uma Marcha pela Ética, e sim uma demonstração de intolerância.

Alguém me perguntou “quanto ganhei” para escrever. Outro, sem me conhecer, me chamou – na verdade acusou – de petista. Alguém falou em ética? Não sou e jamais fui petista. Mas muito menos sou ptfóbico. Não é apenas o PT que tem sérios problemas de ética na política brasleira. Quem não se lembra do atentado da bolinha de papel sofrido por Serra? E da recusa de Aécio em se submeter ao bafômetro?

Não milito em nenhum partido. Jamais militei.

Pude ver quanto está complicado ser um jornalista independente no país.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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