Bacellar queria proteger o CV pensando nas eleições de 2026, diz PF

Atualizado em 4 de dezembro de 2025 às 7:29
Rodrigo Bacellar e Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

A nova representação da Polícia Federal contra o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), detalha o que os investigadores classificam como “ação obstrutiva” para interferir no andamento da Operação Zargun. A intenção do parlamentar, de acordo com o inquérito, seria de manter uma relação com o Comando Vermelho visando as eleições de 2026.

Segundo o documento obtido pelo Globo, incluído na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado teria recebido informações antecipadas sobre a ofensiva policial, dialogado com o então parlamentar Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, e orientado a retirada de itens de interesse da investigação antes do cumprimento dos mandados.

O governador Cláudio Castro (PL) também seria uma parte importante de proteção a TH Joias, atuando para evitar que ele fosse julgado na Alerj.

Para a PF, esse conjunto de ações tinha como “possível objetivo subjacente” a “manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho”, facção que domina amplas áreas do estado. O texto menciona ainda que tal domínio territorial “se traduz em milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha”, em referência às eleições de 2026.

Bacellar foi preso na quarta-feira (4) na Operação Unha e Carne, deflagrada sob a suspeita de que ele teria vazado dados sigilosos da Zargun e atuado para atrapalhar o trabalho dos investigadores. A prisão ocorre três meses depois de TH Joias, apontado como intermediário do Comando Vermelho, ter sido detido em ação conjunta da PF, Ministério Público Federal, Ministério Público do Rio e Polícia Civil.

As investigações já haviam revelado articulações da facção para ampliar sua influência política. Entre os presos na Zargun está Índio do Lixão, considerado braço direito de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, liderança do CV no Complexo do Alemão.

TH Joias e Rodrigo Bacellar. Foto: Reprodução

A PF afirma que Índio movimentou R$ 120 milhões em cinco anos, pagava policiais para proteger integrantes da quadrilha e planejava se lançar candidato a vereador em Duque de Caxias. Diálogos apreendidos mostram um ex-assessor de TH discutindo a possível candidatura com o traficante e com Alessandro Pitombeira Carracena, ex-subsecretário estadual de Defesa do Consumidor.

Carracena também foi preso na operação. De acordo com a PF, ele recebeu dinheiro da facção para repassar informações sigilosas e usar sua rede política em benefício dos criminosos.

O ex-gestor passou por cargos nas administrações de Cláudio Castro e Marcelo Crivella antes de ser exonerado no início deste ano. Em um dos episódios citados pelos investigadores, o subsecretário teria atuado para retirar uma base do Batalhão de Choque da comunidade Gardênia, após pedido de TH e de Índio.

Segundo Fábio Galvão, superintendente da PF no Rio, “os criminosos conseguiram se infiltrar na polícia e na Assembleia Legislativa. Isso é muito perigoso”.

TH Joias, preso em setembro em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, é acusado de usar o mandato para favorecer o Comando Vermelho. As apurações apontam que ele intermediava a compra de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão e mantinha assessores com vínculos com a facção.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.