É ruim, artificial e secundária – diante da somatória de crises que o país atravessa – a cizânia pública na bancada federal do PSOL. A acusação de que haveria interesses fisiológicos envolvidos numa questão tática – que não envolve princípios de nenhuma ordem – azeda o debate num coletivo que se pauta por uma conduta aguerrida e exemplar. Seja pela história pregressa, seja pela atuação presente, não há nenhum parlamentar fisiológico na bancada do partido.
Qual a divergência? A tática para se derrotar Bolsonaro na eleição para presidência da Câmara. A esquerda está fora do jogo e a única possibilidade real é a da redução de danos. Há duas postulações da direita, ambas muito ruins. Mas uma delas é a de Bolsonaro.
A maior parte da oposição fechou com Baleia Rossi, do MDB. Pode haver composição futura com o governo por parte dele? Pode. Mas no plano imediato, as opções são as que li em algum lugar: “Com Baleia a esquerda não ganha, mas com Artur Lira ela perde”.
Com Baleia pode-se negociar a presidência ou a relatoria de algumas comissões. Fisiologismo zero aqui. A atividade parlamentar real se dá nas comissões. É um prejuízo enorme a esquerda não poder pautar decisões, por exemplo, nas comissões de Direitos Humanos ou Relações Exteriores, hoje nas mãos da extrema direita. Reivindicar tais postos é algo importante na luta política congressual.
A tática mais adequada seria o voto no candidato do MDB, mediante compromissos mínimos de sua parte.
Mas a ação vencedora é a de lançar uma chapa com chance zero de vitória, cuja meta principal é marcar posição e mostrar às população que o PSOL não entra na lama parlamentar.
Se houver segundo turno, todos concordam – me parece – em descarregar seus votos em Baleia Rossi. Se não houver, o PSOL pode ser acusado de dividir a votação geral e possibilitar a vitória do candidato bolsonarista. Parecem reduzidas as chances do emedebista levar na primeira volta.
A diretriz do PSOL é um jogo de imagem, inócuo no enfrentamento real, que embute riscos sérios.
A disputa entre a bancada, no entanto, revela algo maior. Partido com um programa político vago e genérico – como ocorre com o PT – o PSOL vê questões táticas e contingenciais se tornarem estratégicas e vice versa. Tudo é tudo e para ontem, diante de cada dilema colocado a sua frente. Há, claro, uma diretriz de esquerda e um apelo a um socialismo quase utópico – isto é, sem definições de tarefas de curto, médio e longo prazo até o objetivo final – e compromissos reais com justiça social, fim aos preconceitos ao lado de uma formulação fragmentada sobre papel do Estado e suas relações com as classes sociais.
Mas tais situações não são insolúveis e marcam indefinições da esquerda no plano internacional. As insuficiências do PSOL têm sido largamente superadas por suas incontáveis qualidades.
Diante desse quadro seria necessária maior tolerância interna, mais paciência e mais flexibilidade no convívio entre nuances do ativismo progressista. Até porque, repito, trata-se de uma questão tática.
O importante no país é que temos quase 220 mil mortos, uma hecatombe sanitária, não há auxílio emergencial e nem vacinas e vivemos uma regressão econômica avassaladora e inédita em nossa História.
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