“Banco de Talentos” é o nome nome do velho toma lá-dá. Por Fernando Brito

Atualizado em 21 de fevereiro de 2019 às 10:49
Bolsonaro e a notícia do bando de talentos: fisiologia na veia

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO TIJOLAÇO

Estadão anuncia, numa cara dura invejável, que o governo resolveu formar um “banco de talentos” para a nomeação dos cargos de segundo escalão.

“A ideia é que os deputados e senadores da base de sustentação do governo no Congresso apresentem currículos de “técnicos” para as vagas disponíveis. As indicações serão avaliadas pelos ministros, que farão uma espécie de processo seletivo, podendo até mesmo recrutar militares da reserva”.

Para aprovar a reforma da Previdência está, pois, criado o “concurso impublicável” para cargos no serviço público. É evidente que a aprovação de cada indicado não será ato isolado do chefe do ministério ou regida apenas pela qualificação pessoal do candidato, pois é simples entender que isso faria com que alguns parlamentares fossem atendIdos e outros não, o que só complicaria o “acerto” com nomeações.

O disfarce é roto, esfarrapado.

Nos jornais, já se fala abertamente num “pacote de emendas orçamentárias”, que envolveria a liberação de R$ 10 milhões por cabeça para os deputados reeleitos (que já têm algumas no Orçamento) e R$ 7,5 milhões para os “novos” que, obviamente, não têm remessas de dinheiro votadas no ano passado.

É o que registra Bernardo Mello Franco em O Globo:

Os deputados não devem se contentar com nomeações. Para apoiar a reforma, a bancada ruralista exigirá a manutenção de subsídios que Guedes pretende extinguir. Já os partidos do centrão querem que o governo crie uma espécie de cota de gasto extra por parlamentar.
As tratativas já incluem cifras. Segundo o presidente de um partido médio, a ideia é que cada deputado novato tenha direito a indicar R$ 7,5 milhões em obras e repasses federais. Para os reeleitos, a cota seria de R$ 10 milhões. Apesar do discurso oficial contra o “toma lá, dá cá”, a Casa Civil tem indicado disposição de negociar.

Para quem figurava como pretendendo governar com o “rolo compressor da opinião pública” – com todos os primarismos que hoje parecem nos sufocar – é uma mudança e tanto pretender fazê-lo com o rolo compressor do centrão parlamentar. O próprio Jair Bolsonaro passou recibo disso ontem ao dizer, em rede de TV, que a condução da reforma, agora, é de Rodrigo Maia, na Câmara, e de Davi Alcolumbre, no Senado.

Como este ano a quarta-feira de Cinzas veio antes do Carnaval – mais precisamente na quarta-feira, 13, do tuíte que detonou a crise Bebianno – vai começar agora o desfile de fantasias.

É evidente que os deputados não se animarão a dar o “toma lá” de apressar o processo de votação da reforma antes de consumados os “dá-cá” com que se lhes acenou. Ser fisiológico não é ser bobo.

Daí que já se cogita em deixar a formação das comissões para depois que Momo se for: “Maia também só pretende definir os comandos das comissões depois do feriado”, informa o Painel da Folha, avisando também que há gente disposta esperar que cheguem também a hora da tosa verde-oliva, prometida para 20 de março.

A semana seguinte ao Carnaval começa em 18 de março, segunda. Ou 19, terça, em se tratando de Câmara dos Deputados. É possível e até provável que uma e outra intenção sejam a mesma.