Bandeira do Brasil é camuflagem para quem tem vergonha de mostrar Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 16 de outubro de 2022 às 15:24
Bandeira do Brasil
Foto: Reprodução

O civismo acionado pela extrema direita e exacerbado na campanha eleitoral é um fenômeno único, com poucas conexões com a ideia de patriotismo e muitas com a suspeita de que há uma militância envergonhada.

As cidades estão tomadas por bandeiras do Brasil. Carros e motos circulam com bandeirinhas. Mas o patriotismo da extrema direita é uma mistura de ativismo constrangido e enrustido.

O bolsonarista patriota é o espalhador de bandeiras por sacadas, janelas, telhados, desde que não apareça qualquer imagem de Bolsonaro.

Pergunte aos vendedores de bandeiras que ocupam esquinas e canteiros das avenidas que fenômeno é esse, e eles darão uma resposta que a ciência política ainda persegue.

A resposta vale por uma tese de doutorado com centenas de páginas. O vendedor vai dizer que oferece bandeiras porque fracassou tentando vender toalhas, camisetas, enfeites e utensílios com a imagem de Bolsonaro.

Parcela dos militantes do fascismo não quer bandeiras com a cara de Bolsonaro, muito menos toalhas, bonés ou algo que tenha o seu rosto.

Os militantes constrangidos e/ou enrustidos do bolsonarismo não têm nem o direito a desfraldar, se quisessem, uma bandeira com o partido de Bolsonaro, porque a maioria não sabe que partido é esse.

O bolsonarista encabulado ou enrustido, que se protege no civismo genérico, é um sujeito sufocado pela própria vergonha.

É um anti-Lula, um anticomunista, um antipobre, anticotas e antigay, mas não é assumidamente um pró-Bolsonaro.

O Bolsonaro que vê pintar um clima diante de uma menininha venezuelana faz a empreitada antitudo, é a sua missão.

Mas sem que muitos de seus seguidores tenham o compromisso de exibi-lo em suas casas, em carros e caminhadas.

O bolsonarista meia-boca está na base de sustentação do bolsonarismo. É rico ou de classe média, branco e macho que se comportam como patriotas, mas escondem Bolsonaro.

Esse bolsonarista envergonhado é parte da turma que contribuiu para enganar as pesquisas no primeiro turno. Ele negou a Bolsonaro e aos filhos o direito de terem um partido só deles.

O bolsonarista com vergonha e medo de ser totalmente Bolsonaro não tem vínculos orgânicos com nada. Pode até ser retórico, barulhento, acintoso e assertivo, mas não usa a fantasia completa de bolsonarista.

Se fosse um torcedor de futebol, o bolsonarista pela metade iria a campo com a camiseta do Brasil, e não com a do time que o mobiliza.

Para esse bolsonarista, Bolsonaro não é o seu líder, mas uma gambiarra torta a ser aceita como é. Que fique escondido e faça o serviço sujo para quem tem vergonha de aparecer ao seu lado.

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/