
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), fez declarações contundentes nesta segunda-feira (4) em São Paulo, durante um evento sobre democracia, contra militares que, segundo ele, foram “arremessados” no governo. Ele abordou temas como a politização das Forças Armadas e o risco de golpe no Brasil, sem mencionar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante o evento na Faculdade de Direito da PUC-SP, Barroso criticou a politização dos militares, atribuindo-a a uma má liderança. Ele destacou que as instituições das Forças Armadas foram manipuladas e utilizadas de forma inadequada, como ocorreu durante uma comissão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições, descrevendo a situação como um “papelão” e uma atitude de deslealdade.
“Foram manipulados e arremessados na política, por más lideranças, fizeram um papelão no TSE. Convidados para ajudar na segurança e para dar transparência, foram induzidos por uma má liderança a ficarem levantando suspeitas falsas”, analisou durante a palestra.
Além disso, o ministro fez duras críticas à gestão anterior, apontando a falta de demarcação de terras indígenas, a paralisação do Fundo Amazônia e o negacionismo diante da pandemia como exemplos de retrocessos. “Nada do que estou falando é uma opinião, tudo que estou falando são fatos objetivos”, afirmou.

Barroso também abordou o risco de golpe no Brasil, mencionando ameaças à democracia, como o uso da inteligência para perseguir adversários, incentivo a acampamentos golpistas e ataques à imprensa. Ele destacou eventos específicos, como o desfile de tanques na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, que considerou uma articulação preocupante.
“As investigações vão revelando que tivemos mais próximo do que pensávamos do impensável. Nós achávamos que já havíamos percorrido todos os ciclos do atraso institucional para termos que nos preocuparmos com ameaça de golpe de estado”, disse o presidente do STF.
“[Isso acabou] culminando no 8 de janeiro [de 2023], que não foi um processo espontâneo, foi uma articulação”, afirmou. O ministro ressaltou ainda que, apesar das ameaças, as instituições venceram.
Após a palestra, ele ressaltou o papel histórico das Forças Armadas na democracia brasileira, mas também apontou a importância de uma liderança responsável para evitar a politização indevida da instituição.
“Ressaltei o papel exemplar que as Forças Armadas desempenharam nos 35 anos da democracia brasileira, cumprindo funções constitucionais e fora da política. E um dos pontos, que eu acho que nós já estamos superando, foi o que todos consideraram indevida politização das Forças Armadas e que depende menos da instituição e mais da liderança”, avaliou.