Baseado apenas em melhora mínima, Doria quer afrouxar quarentena contra covid

Atualizado em 2 de fevereiro de 2021 às 17:43
João Doria Jr. Foto: Wikimedia Commons

Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual (RBA)

POR RODRIGO GOMES

Pressionado por empresários que não aceitam as regras da quarentena contra a covid-19 em São Paulo, o governador paulista, João Doria (PSDB), anunciou ontem (1º) que deve rever a fase vermelha temporária instituída no dia 25 de janeiro para conter o agravamento da pandemia do novo coronavírus. No entanto, dados do Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi) do governo estadual mostram que a melhora na situação foi mínima. O número de novos casos voltou a crescer na última semana epidemiológica. O número de mortes manteve média de 219 óbitos por dia. E o ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) caiu mais devido a abertura de novos leitos do que uma queda nas internações.

“Reduzimos a ocupação nos leitos de UTI [para] 68,5% no estado, 67,9% na Grande São Paulo. Nas semanas anteriores, eram taxas superiores acima de 70%”, disse o secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn. Ele emendou que na semana passada, o estado tinha 6.800 pacientes internados e ontem tinha 5.800. No entanto, em nenhum momento de janeiro o número de paciente internados chegou a 6.800. O maior número em janeiro foi de 6.092 pessoas internadas, no dia 19. E ontem havia 5.872 pessoas internadas.

Variações

Na comparação de duas semanas, a queda no número de pessoas internadas com covid-19 é bem mais modesta do que sugere o secretário de Doria: de 6.004 para 5.872 (2,2%). A média de pessoas internadas por dia também caiu, mas segue acima de 1.500 novas internações ocorrendo diariamente. O maior patamar desde setembro do ano passado.

Já a taxa de ocupação de UTI efetivamente caiu na maioria das regiões. Mas isso se deu mais por um aumento no número de leitos para covid-19 disponível, efetivado pelo governo Doria, do que por uma queda significativa na procura por esses leitos.

No início de janeiro, havia 17,49 leitos de UTI para pacientes com covid-19 para cada cem mil habitantes em São Paulo – cerca de 7.800 leitos. Hoje são 19,74 por cem mil – pouco mais de 8.800. Um aumento de mais de mil leitos, obtidos, por exemplo, com o fechamento dos prontos socorros de quatro hospitais estaduais na periferia da capital paulista.

Com essa mudança, as regiões poderiam ter algum avanço no Plano São Paulo, mas que pode durar pouco. Na comparação entre a última semana e a anterior, as mudanças com base na ocupação de UTI seriam as seguintes:

  • Fase vermelha: de 7 para 5 regiões;
  • Fase laranja: de 7 para 4 regiões;
  • Fase amarela: de 5 para 8 regiões;
  • Fase verde: 5 para 6 regiões.

A fase verde é apenas um parâmetro, já que nenhuma região pode avançar a essa fase no momento.

Fragilidades

Na atual regra do Plano São Paulo, em regiões que estão na fase vermelha só serviços essenciais podem funcionar. Já as que estão na fase laranja, podem ter todos os serviços operando durante o dia – desde que com lotação máxima dos estabelecimentos de 40% – e bares e restaurantes sejam fechados para consumo no local. Mas a partir das 20h, nos dias úteis, e o dia todo no final de semana e feriados, fica valendo a fase vermelha, com funcionamento apenas de serviços essenciais.

Além da ocupação de UTI, outros dados mostram que a melhora da pandemia de covid-19 alardeada por Doria é frágil. Só em janeiro, foram registrados 310.727 novos casos de covid-19 no estado de São Paulo, o maior número da pandemia. Foram 6.237 mortes no mês. Houve uma pequena queda nas últimas duas semanas, de 3,7%. No entanto, o número de mortes por semana foi de 1.478, na primeira semana epidemiológica de janeiro, 1.595 na segunda, 1.544 na terceira, e 1.535 na última semana. Quase tão alto como no pico da pandemia do ano passado.

Já o número de novos casos oscilou, mas segue em alta. Foram 72.493 na primeira semana epidemiológica de janeiro, 79.045 na segunda, 74.742 na terceira, e 78.704 na última semana. A média de novos casos é de mais de 11 mil por dia, equivalente ao registrado no pico da pandemia do ano passado.

Conduta

A proposta de Doria de relaxar a quarentena contra a covid-19 com uma mínima melhora na pandemia se opõe totalmente à forma como ele agiu quando a situação começou a se agravar, em novembro do ano passado. Ou seja, em meio à eleição para prefeitos e vereadores.

Com os números de casos, internações e mortes subindo semana após semana, o tucano manteve o discurso de que a situação estava sob controle e retardou as ações para aumentar o rigor da quarentena – o que só foi feito efetivamente em janeiro.