Basta! Brasileiros não podem pagar o preço de uma campanha de ódio. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 30 de outubro de 2018 às 11:51
Rodrigo, vítima da campanha de ódio

As informações ainda estão confusas, mas com que já foi tornado publico é possível concluir com segurança: Rodrigo Magalhães, morto no município de Piracuruca, interior do Piauí, por disparos de arma de fogo efetuados por um PM, foi vítima de uma tragédia.

E essa frase não é óbvia, embora assassinato seja sempre uma tragédia.

A tragédia de que foi vítima Rodrigo Magalhães é no sentido amplo, vai além do caso dele em si, é a tragédia decorrente do ambiente moralmente tóxico que a campanha e agora a eleição de Jair Bolsonaro criaram.

Rodrigo Magalhães de Brito, aos 29 anos, foi morto a tiros por volta das 14 horas de ontem. Um policial militar confessou a autoria e, segundo o coronel Erisvaldo Viana, comandante da PM em Piriri, região onde ocorreu o homicídio, os tiros foram fruto de um desafio que tem registros públicos.

Rodrigo aparece em imagens divulgadas na rede social exibindo uma arma durante carreata para comemorar a vitória de Jair Bolsonaro.

Disse o coronel, segundo reportagem de Nathalia Amaral, publicada no porta O Dia News:

“Lá na carreata, ele começou a exibir uma arma de fogo e no grupo (de WhatsApp) começou a ameaçar todo mundo, querendo ordem e dizendo que não ia aceitar desaforo. Nesse grupo tinha um PM que saiu em defesa dos integrantes e o Rodrigo começou a ameaçar o policial, dizendo que não tinha medo de polícia.”.

De acordo com o relato do coronel, após a discussão, a vítima teria marcado um encontro pessoal com o PM.

No local, sempre de acordo com o comandante da PM, Rodrigo estava armado e, apesar de advertido, não entregou a arma. Acabou alvejado no abdômen por dois de três tiros disparados pelo policial.

O autor do disparo se apresentou à Delegacia de Polícia e agora responderá a inquérito.

A nota divulgada pela PM:

“A Polícia Militar do Piauí informa que no dia 28/10/18, Rodrigo Magalhães de Brito estava em uma carreata na cidade de Piracuruca, portando uma pistola e mostrando para as pessoas, quando a PMPI chegou ao local o individuo já tinha evadido. Nesta tarde, a Polícia Militar foi efetuar a prisão de Rodrigo em virtude de ameaças no WattsApp. No momento da prisão o policial verbaliza e pede para Rodrigo soltar a arma. Ele sai em fuga e a Policia Militar começa o acompanhamento. Em seguida, houve abordagem policial e acabou sendo alvejado durante a intervenção. O Policial Militar apresentou-se espontaneamente no Distrito Policial e está dando seu depoimento ao Delegado titular de Piracuruca. A Corregedoria da PMPI tomará todas as providências.”

No dia da eleição, Rodrigo postou pelo menos dois vídeos. Em um defende Bolsonaro e, em outro, se dirige a alguém que teria criticado o pastor Silas Malafaia (abaixo).

“Teve uma baixaria nas minhas redes sociais. Eu ordeno ordem e respeito. Difamaram aí uma pessoa que eu tenho uma grande admiração. Uma das mentes mais brilhantes do nosso país. Eu tenho uma grande admiração e um grande respeito ele, o pastor Silas Malafaia”, afirmou.

Em seguida, explica que por trás daquela crítica estaria o apoio de Silas Malafaia a Jair Bolsonaro, candidato que Rodrigo apoiava com grande entusiasmo, chegando a postar uma montagem de uma selfie com o então candidato ao fundo.

O inquérito vai apurar todas as circunstâncias do homicídio, ocorrido cerca de 24 horas depois da divulgação do vídeo, mas é visível que Rodrigo, nascido em São José dos Campos, interior de São Paulo e com curso superior, estava intoxicado pelo ambiente de ódio.

Além do registro em vídeo no qual ele mostra a arma durante a carreata, basta verificar suas postagens na rede social. Em uma, ele mostra Bolsonaro como o exterminador do futuro, atirando em uma estrela do PT.

Publica também vídeos em que o coronel Carlos Alves ataca ministros do Supremo Tribunal Federal.

Rodrigo se apresentava como valentão, evidentemente. Mas, sem que se desse conta, era vítima de uma campanha de ódio criada para levar Bolsonaro ao poder.

É triste, mas é um fato, e é preciso debater à exaustão as consequências dessa campanha de ódio para que outros brasileiros não paguem o preço da ambição desmedida de alguns e da ganância de outros.