BBB: Leidy Elin, Yasmin Brunet e a servidão estrutural à branquitude

Atualizado em 12 de março de 2024 às 18:30
A sister Leyde jogou as roupas do participante Davi na piscina da casa do BBB. Reprodução

Yasmin Brunet tem sido apontada como uma das vilãs do BBB 2024, sempre expressando – em palavras ou ações – seu inegável classismo (ou seja, odiando pobres) e um racismo ora velado, ora escancarado, a depender do humor da mulher de 35 anos que se comporta como uma pré-adolescente, mas deve ser responsabilizada por seus atos como gente grande.

O que venho falar, no entanto, não é precisamente sobre ela.

O que tenho a dizer é sobre o racismo estrutural que frequentemente se torna tema no BBB. Dessa vez, no entanto, compreender de que maneira o ocorrido reflete um racismo muito presente aqui fora é ligeiramente mais complexo.

Acontece que uma das participantes (Leidy Elin, mulher preta) partiu para a defesa de Yasmin Brunet como uma loba em briga com Davi (homem preto).

Faço questão de destacar que, em defesa de uma mulher branca, está atacando um homem preto, sem perceber que ambos compartilham da mesma exclusão racial.

É claro que nem tudo deve ser racializado, e mais claro ainda que a situação – como toda situação entre seres humanos – tem outras camadas e outras implicações se não as raciais, mas, convenhamos: ver uma mulher branca rir enquanto dois negros discutem entre si é mais do que sintomático, é berrante, salta aos olhos ao se apenas encarar a imagem, a qual é autoexplicativa.

Isso é evidente pelo fato de que Leidy, depois de defender sua “amizade” unilateral com unhas e dentes, foi deixada no vácuo ao tentar abraçar a “amiga branca”.

Para gente como Yasmin Brunet, preto não tem qualidades, tem serventia. É muito conveniente para ela se esconder atrás de uma mulher negra que não poderá ser acusada de racismo contra Davi.

O sentimento que me domina ao assistir a essas cenas é de completa tristeza por perceber que, ingenuamente, uma mulher negra se deixa usar por uma branca e a defende como uma fiel escudeira, sem, no entanto, receber de volta a mesma preocupação e afeto.

Leidy não parece ter entendido que a branquitude não acolhe negros: ela os usa no máximo, e, frequentemente, os divide.

A foto de Yasmin rindo enquanto dois negros se insultam é medonha. O puro suco da elite brasileira – classista e racista -, a imagem fiel das novas formas de exploração dos brancos contra os negros.

Não, Leidy não tem culpa de estar sendo usada. Ela não é simplesmente uma puxa-saco ou um saco de pancadas, é uma mulher preta criada em uma conjuntura racista que a convenceu de que ela só pode existir ao ser validada por uma pessoa branca.

Isso reflete a vontade de pertencer, algo que tanto nos une enquanto seres humanos. O racismo estrutural convenceu pessoas como ela de que ser aceito pela branquitude é uma forma eficaz de burlar o racismo.

Nota: não é.

Pessoas como Leydy acabam se colocando em um lugar de subserviência à branquitude, subserviência esta que poderia ser dita “voluntária” acaso não fosse apenas um resultado do racismo entranhado no tecido social.

É assim que a branquitude faz com os negros: os divide e depois riem, a salvo de qualquer acusação, sem que precisem sujar as próprias mãos ou seu próprio nome.

Leidy não merece ser culpabilizada – como já está acontecendo, visto que sua conta no Instagram foi derrubada. Ela é apenas uma amostra do apartheid moderno, velado e sombrio.

Se essa história pode ter alguma utilidade, é a de nos ensinar didaticamente que o racismo pode ter muitas faces, inclusive o disfarce de “amizade”.

Assim como a elite branca que representa, Yasmin Brunet se esconde atrás de uma mulher preta para praticar a segregação que aprendeu em casa.

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