Bebianno deve cair, mas as crises continuarão, já que o problema deste governo é Bolsonaro. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 14 de fevereiro de 2019 às 0:27
Gustavo Bebianno x Jair Bolsonaro

Na entrevista que deu na noite desta quarta-feira à Globonews, Gustavo Bebianno, ministro da Secretária Geral da Presidência, bateu de frente com o próprio presidente, ao comentar as postagens nas redes sociais que tornam muito difícil sua permanência no governo.

“Não sou homem de postar coisas em redes sociais, de ficar acompanhando redes sociais, não faz parte da minha rotina”, afirmou.

Como se sabe, Jair Bolsonaro usa a rede social com muita frequência.

“As notícias que me chegam, eu recebo com uma certa tristeza, perplexidade, não compreendo”, disse o ministro.

A repórter perguntou:

O senhor não entendeu o vazamento desse áudio?

“Não entendo. Enquanto ministro de estado, eu vou manter a minha postura, a liturgia inerente à função e não comento esse tipo de coisa”, afirmou. 

O áudio vazado por Carlos Bolsonaro é o que mostra a gravação de Jair Bolsonaro, supostamente transmitida a Bebianno via WhatsApp.

“Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então, eu não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser o estritamente essencial. Estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí”, disse Bolsonaro na gravação.

Como não faz sentido que Bebianno tenha vazado essa mensagem para Carlos Bolsonaro, não há dúvida de que quem vazou foi o próprio Jair Bolsonaro.

Se Bebianno falou com a Globonews, um pouco mais cedo Jair Bolsonaro deu entrevista à TV Record, e chamou de “mentira” a versão de que teria conversado com o ministro três vezes na terça-feira, depois que foi publicada a denúncia de que o PSL usou candidata laranja em Pernambuco para desvio do Fundo Partidário.

Como quem deu essa versão foi o próprio Bebianno, Jair Bolsonaro, a rigor, o chamou de mentiroso.

Na mesma entrevista à Record, também deu a entender que Bebianno tentou praticar corrupção.

“Se tiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente o destino (de Bebianno) não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, disse.

Confrontado com a informação de que Bebianno teria falado com ele a respeito, disse:

“Mentira. Sabe por que é mentira? Eu determinei à Polícia Federal que investigasse. (…) E esta é a resposta que eu dou a todos que tentam praticar a corrupção no Brasil”.

Diante de declarações como esta, a permanência de Bebianno no Planalto se torna insustentável. Mas, como se trata de Bolsonaro, é prudente aguardar.

Na primeira semana de governo, o presidente foi desautorizado pela equipe econômica de Paulo Guedes, no episódio em que anunciou aumento de impostos.

E ficou tudo por isso mesmo.

O governo de Bolsonaro tem pouco mais de 40 dias e, destes, o chefe do Executivo passou praticamente metade do tempo longe de Brasília, entre a viagem a Davos e a internação no Albert Einstein.

Quando esteve na ativa, gerou confusão.

Foi assim com Guedes e agora com Bebianno.

Fica nítido que o governo tem grandes problemas, e o maior deles atende pelo nome de Jair Bolsonaro.