Bebianno, quem diria, já foi acusado de ser petista infiltrado na campanha de Bolsonaro. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 18 de fevereiro de 2019 às 11:10
Bolsonaro com a ficha de filiação ao Patriotas: nessa versão delirante, Bebianno estaria ali como “petista” infiltrado

As arestas entre Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno são mais antigas do que  o revelado até agora.

Em 2018, antes da eleição, o presidente do Patriotas, o partido a que Bolsonaro esteve filiado antes de ir para o PSL, deu uma entrevista em que acusou Bebianno de enganar o então candidato.

Falando sobre a razão de Bolsonaro ter abandonado o Patriotas depois de anunciar que disputaria a eleição pela partido, Adílson Barroso, o presidente da legenda, disse:

“Não estou culpando o Bolsonaro. Estou culpando duas pessoas malfeitoras que estão ao redor dele, que ele vai descobrir, quem sabe um pouco tarde, no futuro.”

Ao longo da entrevista, diz quem são. Um é Julian Lemos, da Paraíba, que respondeu a inquérito por agredir a esposa e a irmã e foi processado por estelionato.

Na carona de Bolsonaro, elegeu-se deputado federal.

O outro é Gustavo Bebianno, que ele acusa de ter telefonado para ele durante o processo de filiação para pedir que não desse legenda para Bolsonaro se candidatar.

Segundo ele, Bolsonaro soube da traição. Mas não acreditou, e a relação se deteriorou desde então.

É uma versão pouco crível, já que Bebianno apostou todas suas fichas na campanha presidencial e viria a se tornar presidente nacional do PSL, o partido que Bolsonaro escolheu para disputar as eleições.

No entanto, Bebianno perdeu o processo por injúria, calúnia e difamação que moveu contra o autor da acusação.

A entrevista é interessante para dimensionar quão próximo do piso está o baixo clero que ascendeu ao governo federal.

Adílson Barroso acusou Gustavo Bebianno de ser um petista infiltrado na campanha de Bolsonaro.

A evidência que aponta é o fato do ministro ter sido sócio do escritório de Sérgio Bermudes, no Rio de Janeiro, que defendeu judicialmente José Dirceu.

Ele diz que o ministro faz parte “dessa máfia”.

Adílson Barroso foi deputado estadual em São Paulo e fundou o partido que toca como se fosse um empreendimento familiar.

Como presidente da legenda, moveu uma ação o Supremo Tribunal Federal para rever a prisão a partir de condenação em segunda instância.

Recuou dois anos depois, quando Lula foi condenado e a ação do partido dele, se julgada, poderia evitar a prisão do ex-presidente.

Ao assinar a ação, nem sabia direito o que aconteceria. Foi convencido pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Só algumas organizações da sociedade civil é que podem mover esse tipo de ação, Direta de Constitucionalidade, e o Patriotas, na época chamado PEN, concordou.

Mas, diante da repercussão ou pressionado, Adílson Barroso pediu que não fosse concedida liminar. Só não desistiu totalmente porque a lei proíbe.

Esse episódio mostra que a ação que pode livrar Lula da cadeia não nasceu para atender seu caso específico, mas adiar o seu julgamento é que foi uma decisão política.

Barroso entrou nesse episódio pela janela, não pela porta.

O presidente do Patriotas sempre esteve à caça de oportunidades, e encontrou algumas.

Agora, quando Bebianno caiu em desgraça com Bolsonaro, poderá dizer:

“Está vendo, eu avisei”.

Para Bebianno, ter acusadores como o presidente do Patriotas soma ponto positivo para ele.

Mas será que é isso que ele busca?

Quer realçar suas diferenças em relação à turma primitiva que sempre fez parte da vida de Bolsonaro?

Neste momento, Bebianno tem dois caminhos: se tornar igual àqueles que o chamam de mentiroso e traidor ou adversário deles.

Com o diácono do baixo clero Adílson Barroso, ele tentou se contrapor e perdeu.

Quando a Justiça julgou improcedente seu processo por injúria, calúnia e difamação, ficou quieto, não recorreu.

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Veja a entrevista em que Bebianno é acusado de ser traidor: