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Bento XVI teve papado marcado por renúncia histórica, atuação conservadora e denúncias de abusos

Bento XVI. Foto: Reprodução

O Vaticano anunciou neste sábado (31) que o papa emérito Bento XVI morreu, aos 95 anos. Nesta semana, o Papa Francisco já havia pedido orações por conta da saúde debilitada de seu antecessor, que estava em estado grave.

Em 11 de fevereiro de 2013, quando o Brasil vivia uma segunda-feira de carnaval, um anúncio vindo de Roma surpreendeu boa parte do mundo. Pela primeira vez em quase 600 anos um Papa anunciava que deixaria a principal cadeira do Vaticano antes de sua morte. Bento XVI, nascido Joseph Ratzinger, na Alemanha, decidiu deixar o papado devido a condições de saúde.

Um dos papas eleitos com idade mais avançada, Ratzinger se tornou Bento aos 78 anos, em abril de 2005. Permaneceu no cargo por quase oito anos, se afastando definitivamente em 28 de fevereiro de 2013, aos 85 anos, criando um novo termo para o vocabulário do dia a dia da igreja católica: papa emérito.

Eleito para substituir João Paulo II, que conduziu a igreja por mais de 26 anos, teve um papado marcado por viagens pelo mundo e por abertura de diálogo com líderes de outras religiões, ele assumiu o cargo deixando clara sua postura favorável à identidade religiosa tradicional.

Antes do papado

Nascido em 16 de abril de 1927 (sábado santo) na cidade de Marktl, no estado alemão da Baviera, Joseph Ratzinger foi o terceiro filho de um policial e uma dona de casa que chegou a trabalhar como cozinheira em hotéis. Passou boa parte da infância e juventude na cidade de Traunstein, próxima da fronteira alemã com a Áustria.

Chegou a se filiar à juventude hitlerista em 1941, cumprindo uma obrigação da legislação alemã, que determinava o registro dos jovens de 14 anos. Porém, há relatos de que seu pai participou da resistência ao regime nazista.

Estudou filosofia e teologia. Ingressou na igreja junto do irmão, Georg, que viria a morrer em 2020 e de quem sempre foi muito próximo. Eles foram ordenados sacerdotes juntos, em 1951.

Após a ordenação, Joseph Ratzinger atuou como professor em diferentes universidades alemãs. Teve consistente carreira acadêmica (recebeu oito títulos de doutor honoris causa, oferecidos por universidades de diversas partes do mundo, antes mesmo de se tornar papa).

Foi arcebispo de Munique e Freising entre 1977 e 1982. Ainda em 1981, foi nomeado por João Paulo II para chefiar o Dicastério para a Doutrina da Fé, um dos órgãos mais importantes da Santa Sé, assumindo o cargo no ano seguinte, após deixar a Alemanha. Permaneceu no dicastério até 2005, quando foi eleito papa.

Bento XVI

Ratzinger foi o homem mais velho eleito papa desde Clemente XII, que havia sido escolhido para o cargo quase 300 anos antes, em 1730. Escolheu o nome em homenagem a Bento XV, que foi papa durante o período da I Guerra Mundial (1914-1918) e tentou intervir – sem sucesso – para o fim do conflito.

Em um dos conclaves mais rápidos da história, com apenas dois dias de duração, foi eleito após quatro votações. Ao assumir o cargo, afirmou que os cardeais tinham escolhido “um simples trabalhador das vinhas do Senhor”.

Sua gestão tradicionalista ficou marcada, inclusive, pelo uso de acessórios que tinham sido deixados de lado por seus antecessores mais recentes, como os sapatos vermelhos e chapéus na mesma cor.

Denúncias de abuso

Em janeiro de 2022, quase nove anos após renunciar ao papado, Bento XVI foi citado em um relatório independente apresentado na Alemanha que denunciava agressões sexuais contra menores nas arquidioceses de Munique e Freising no período em que ele era arcebispo.

O documento afirma que o então cardeal Ratzinger se omitiu da responsabilidade de afastar pelo menos quatro clérigos suspeitos de abusos sexuais. O relatório afirma que pelo menos 497 pessoas foram vítimas de abuso, e a maioria eram meninos entre 8 e 14 anos.

Ao ter acesso ao relatório, o então papa emérito afirmou aos 94 anos que não tinha responsabilidade sobre os casos, mas divulgou nota afirmando “sua comoção e vergonha pelos abusos de menores cometidos por clérigos” e oferecendo “orações a todas as vítimas”.

Originalmente publicado em BRASIL DE FATO

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