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Bernardinho é só um aperitivo do que virá em matéria de “não políticos” candidatos. Por Donato

A mesma turma

De hoje até 2018 veremos surgir muitos candidatos a candidatos que se enquadram na categoria da moda. Os ‘não políticos’.

Nesta segunda-feira, por exemplo, o Partido Novo anunciou que irá decidir ainda este mês se o ex-jogador e técnico de vôlei Bernardinho será o candidato da sigla para a vaga de Michel Temer na presidência da República.

Bernardinho? Aquela figura que, quando contrariado, morde os próprios dedos, atira objetos no chão, extravasa sua ira aos berros com seus subordinados? Sim, essa é a aposta do partido em decorrência dos novos tempos.

“Muita gente no Brasil gostaria de votar nele, não só por ser um vencedor, um formador de equipe, mas pelo cenário em que a gente precisa trazer novas lideranças para a política”, declarou João Amoêdo, presidente do Partido Novo.

O Novo é realmente novo. Foi fundado em 2011, mas seu registro é de 2015. Cresceu, portanto, na esteira dos movimentos que patrocinaram o impeachment de Dilma Rousseff. A própria legenda não se define como um partido e sim como um ‘movimento de cidadãos insatisfeitos’.

Liberal, a sigla prega a ladainha do Estado mínimo e defende a diminuição da carga tributária e qualidade nos serviços públicos como educação, saúde, segurança.

Ou seja, aquela matemática que só se passa na cabeça dos liberais que querem mais e melhor, mas pagando menos impostos. Um dia juro que conseguirei entender.

Bernardinho era filiado ao PSDB até o começo do ano passado. Amigo de Aécio Neves, desligou-se dos tucanos e entrou no Novo em 2016, mas a troca só veio à público em abril deste ano – num gesto à la Luciano Huck – quando o senador mineiro caiu em desgraça e todos passaram a negar sua companhia.

O ex-técnico assumiu então ter-se juntado à legenda que se declara como um ‘grupo de pessoas nunca havia se candidatado a nenhum cargo eletivo’.

Na hipótese de declinar de Brasília, aposta-se que ele seja uma candidato forte para concorrer ao governo do Rio de Janeiro e ocupar a cadeira de Luiz Fernando Pezão.

Bernardinho é o não-político sob medida para as novas gerações. Competente e vencedor em sua área de atuação, encaixa-se sob medida para os eleitores a quem Marcia Tiburi, em seu livro “Como Conversar com um Fascista”, classifica como “jovens manipulados pela indústria cultural da antipolítica” que farão essa transposição mental de um universo para outro. O que uma quadra de vôlei tem em comum com um gabinete de governo é algo que me escapa.

O aspecto preocupante nisso tudo, é que o imbroglio de 2014 resultou realmente no mais do mesmo. Partidos velhos estão mudando de nome para venderem-se como novos (o antigo PTN agora se chama Podemos, veja você) ou então surgem esses nanicos como o Novo, com candidatos midiáticos como Bernardinho que, no fundo, não passam de siglas alternativas dos grandes para fisgar leigos.

De orientação tucana, quem de fato irá dar as cartas numa hipotética gestão Bernardinho? Serra, Aécio, FHC?

Bernardinho é uma tremenda bola na rede, e é apenas um dos tantos candidatos despolitizados que veremos ao longo dos próximos meses. Muitos virão com um discurso racista, machista, xenófobo, homofóbico e armamentista. Prepare-se: estes serão os favoritos de um segmento da sociedade que você acreditava estar bem longe de seu círculo de amizades.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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