Publicado originalmente no blog Tijolaço
POR FERNANDO BRITO
Recolhida, durante as horas do que ela própria chamou de “tempestade no Twitter”, a repórter Thais Bilenky, antes na Folha e agora na Piauí, publicou agora à noite nesta revista um texto sobre o Twitter que postara dizendo que a assessoria de Jair Bolsonaro comunicou que ele regressara ao Rio, do dia da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, por causa de uma “intoxicação alimentar”. Nele, deixa a conclusão de que a assessoria do então deputado mentira.
“Cerca de nove horas antes do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, a assessoria do então deputado federal Jair Bolsonaro me disse, em um telefonema, que o pré-candidato a presidente tinha dado uma trégua na agenda de campanha. O motivo era uma intoxicação alimentar, afirmou o assessor. Dada a convalescença, o deputado teria antecipado seu retorno de Brasília ao Rio de Janeiro, onde morava, conforme a assessoria de Bolsonaro.”(…)
No entanto, a informação sobre o retorno antecipado de Bolsonaro ao Rio naquele 14 de março não se comprova. No mesmo dia, ele aparece em um vídeo (veja a foto) durante uma sessão da Câmara dos Deputados, por volta das 20h05.”
É jornalismo, o que está faltando neste caso. Poderia ter sido evitado se apresentada a passagem de volta utilizada pelo deputado, o que foi, também, objeto de apuração por Bilenky, infelizmente sem explicações e com um sigilo que se alega num bilhete comprado com recursos públicos, não como algo privado:
Bolsonaro emitiu duas passagens naquele 14 de março de 2018, ambas saindo de Brasília com destino ao Rio. Uma delas foi reembolsada no dia seguinte. O site da Câmara não disponibilizou detalhes como o dia do voo efetivamente nem os horários. Ambas eram da Gol. Solicitei tais informações à Câmara, que ainda não retornou. Por meio de sua assessoria, a Gol afirmou que não fornece informações sobre seus passageiros e bilhetes emitidos.
Não haveria razões para que Bolsonaro fosse incluído nas investigações do caso Marielle, mesmo sendo vizinho próximo do suposto assassino, mas passou a haver quando um porteiro anotou sua casa como destino do motorista do crime e assegurou que foi o “Seu Jair” quem autorizou sua entrada.
Mas isso virou um festival de encobrimentos e irregularidades. Que é preciso para que se faça o que Thais Bilenky fez: apurar, verificar e expor o que é verdade e o que é mentira, como a que ela ouviu de assessores.
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