
Cidades pequenas de Mato Grosso do Sul se tornaram palco de um boom bilionário da indústria da celulose, mas o desenvolvimento acelerado cobra seu preço. Inocência, com apenas 8 mil habitantes, recebe a maior fábrica da chilena Arauco, avaliada em R$ 25 bilhões. Ribas do Rio Pardo abriga um megaprojeto da Suzano, de R$ 22 bilhões, enquanto Bataguassu aguarda empreendimento da Bracell, estimado em R$ 16 bilhões. A promessa de empregos e progresso se mistura a um cotidiano de improviso e desordem social. As informações são da reportagem da Folha de S. Paulo.
Atraídos pelos anúncios de “cidade mais rica do mundo”, milhares de migrantes chegaram a Ribas sem qualificação. Resultado: favelas surgiram ao lado de novos condomínios erguidos pela própria Suzano para tentar conter a crise habitacional. Escolas improvisam salas em bibliotecas diante da explosão de matrículas, e o saneamento não dá conta — o despejo de esgoto já superou em 75% a capacidade da estação local.

As empresas apontam contrapartidas. A Suzano afirma ter investido R$ 300 milhões em saúde, segurança e moradia, enquanto a Arauco constrói uma vila com 620 casas e bancou um plano diretor em Inocência. Mesmo assim, prefeitos admitem que a infraestrutura não acompanha o ritmo do crescimento, e a população convive com precariedade em serviços básicos, especulação imobiliária e aumento da desigualdade.
Três Lagoas, considerada a “cidade madura” do setor, viu seu PIB per capita triplicar em uma década, mas ainda sofre com lacunas graves, como a falta de voos comerciais após o corte da Azul. O contraste escancara o dilema do Vale da Celulose: enquanto bilhões irrigam o setor, os municípios tropeçam em carências elementares de moradia, saúde, saneamento e transporte.