Bilionários devem pagar custo da transição para economia sustentável, diz secretário em Davos

Atualizado em 23 de janeiro de 2020 às 11:35
Secretário-geral do IndustriALL está representando os trabalhadores nas reuniões do Fórum Social Mundial. Foto: Reprodução/TVT

Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual (RBA)

O secretário-geral do IndustriALL, Valter Sanches, defende a taxação das grandes fortunas em todo o mundo para financiar a transição para uma economia mais verde, menos dependente das fontes de combustíveis fósseis. Ele citou declarações da ambientalista Greta Thunberg, que vem afirmando que “a nossa casa está pegando fogo”. Para Sanches, é necessária a elaboração de um plano de apoio, envolvendo trabalhadores, empresas e Estado para garantir a preservação dos empregos afetados pela transição energética. Ele tem participado de reuniões do Fórum Econômico Mundial, que ocorrem ao longo desta semana, em Davos, na Suíça.

“Defendemos uma transição justa, que é baseada num modelo tripartite – sindicatos, empresas e governos. Já temos alguns exemplos positivos na Alemanha, Austrália e Canadá. A União Europeia (UE) acaba de lançar o chamado Green New Deal, destinando 25 bilhões de euros, só no primeiro ano, para apoiar políticas de retreinamento profissional, apoio às comunidades, reconversão das indústrias, sobretudo da mineração. São políticas que são possíveis, mas precisam de dinheiro. O dinheiro está aí, na mão dos bilionários. São cerca de 2.100 bilionários no mundo, segundo estudo da Oxfam, que detêm riqueza equivalente a 4,6 bilhões de pessoas mais pobres. Qual é a maneira civilizada que se encontrou para distribuir renda? É taxando”, afirmou Sanches ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (23).

Ele diz que o Fórum de Davos escancara os contrastes do modo de produção capitalista, pois reúne a nata da elite global, que se locomove usando aviões e veículos movidos a combustíveis fósseis e tem um padrão de consumo elevadíssimo, contribuindo assim para o agravamento do aquecimento global. Por outro lado, são os menos impactados pelas mudanças decorrentes da crise ambiental. “Não são eles que, muitas vezes, têm que modificar a sua trajetória, mudando até mesmo de país, por conta de secas, inundações, deslizamentos de terras. O eixo fundamental que liga a explicação de todas essas mazelas do mundo é a questão da desigualdade”, afirmou o secretário-geral do IndustriALL.

Vexame de Guedes

Segundo Sanches, a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, no Fórum Econômico Mundial, só não foi mais decepcionante porque eram baixas as expectativas. Ele classificou como “desastrosa” e “totalmente descabida” a declaração do ministro que atribuiu à pobreza a principal causa da devastação ambiental nos países em desenvolvimento. Segundo Guedes, os “pobres destroem o meio ambiente para ter o que comer”. O secretário-geral do IndustriALL criticou a ausência de medidas de estímulo à economia e à criação de empregos no Brasil. Disse que o ministro, em suas apresentações, se limitou a repisar a medidas de ajuste fiscal e contenção dos gastos públicos.