Bill Gates se diz contra compartilhamento de fórmulas de vacinas com países pobres para combater a pandemia

Atualizado em 26 de abril de 2021 às 16:53
Bill Gates. Foto: Wikimedia Commons

Centenas de entidades de todo o mundo promovem uma campanha em prol da suspensão das patentes da vacina contra covid-19, com isenção de obrigações do Trips, acordo que regula a propriedade intelectual.

Isso permitiria que empresas de medicamentos genéricos começassem a produzir os imunizantes.

No âmbito da Organização Mundial do Comércio, já existe uma proposta formal, liderada pelos governos da África do Sul e da Índia e com o apoio de diversos países.

O problema é o dinheiro.

Bill Gates, um dos homens mais ricos do planeta, acha que suspender as proteções de patentes é uma “má ideia”.

“Existem tantos fabricantes de vacinas no mundo e as pessoas levam muito a sério a segurança delas. Mudar algo que nunca havia sido feito – mudar uma vacina, digamos, de uma fábrica [da Johnson & Johnson] para a Índia – é uma novidade. É apenas por causa de nossos subsídios e conhecimento que isso pode acontecer”, disse em entrevista à Sky News.

O bilionário se refere ao laboratório Serum, na Índia, que tem contratos com a AstraZeneca para fabricar sua vacina, conhecida internacionalmente como Covishield.

O que está atrapalhando a imunização mundial, diz ele, “não é a propriedade intelectual. Não é como se houvesse algum fabricante de vacinas ocioso, com aprovação regulatória, que faz vacinas magicamente seguras. Você tem que fazer o teste sobre essas coisas. Cada processo de fabricação precisa ser visto de uma forma muito cuidadosa.”

O jornalista Stephen Buryani, que no sábado escreveu uma coluna no Guardian sobre a necessidade urgente de dispensa de patentes e compartilhamento de tecnologia, criticou Bill Gates.

“Ele age como um otimista, mas tem uma visão verdadeiramente sombria do mundo”, escreveu.

Durante a entrevista à Sky News, Gates disse que “não era totalmente surpreendente” que as nações mais ricas como EUA, Reino Unido e outras na Europa vacinassem suas populações primeiro.

Isso se devia ao fato de que a pandemia era pior nesses países, mas disse acreditar que “dentro de três ou quatro meses a distribuição da vacina chegará a todos os países que têm a epidemia muito severa”.

Enquanto existem países que ainda não aplicaram nenhuma dose, 16% da população mundial já reservaram 70% das vacinas disponíveis.

No ritmo atual, mais de 85 países só alcançarão níveis razoáveis de vacinação em 2023.