Biógrafo de Milei diz que eleição dele é risco real à democracia argentina

Atualizado em 19 de novembro de 2023 às 16:59
Javier Milei, candidato ultraliberal à presidência da Argentina. Foto: Erica Canepa/Bloomberg/Getty Images

O jornalista argentino Juan Luis González alertou para os riscos de um país governado pelo candidato ultraliberal Javier Milei. Escritor do livro “El Loco”, biografia não-autorizada de Milei, González afirma que não há uma experiência passada que permita imaginar como seria um governo liderado pelo candidato da direita.

Muitas das ideias propostas por ele, como a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central e o término das obras públicas, nunca foram implementadas na Argentina. Além disso, a instabilidade de Milei, um personagem que alegadamente conversa com seu cachorro morto e acredita que os clones do animal lhe dão conselhos políticos, torna difícil prever o que aconteceria, conforme expressa o jornalista.

Lançado em julho, o livro rapidamente se tornou um best-seller. González reconstitui a trajetória do candidato, desde sua infância solitária, marcada por bullying, até se tornar um candidato aclamado pela direita, que conquistou fama por seus gritos e insultos na televisão. A morte de seu animal de estimação em 2017 é descrita como um ponto de virada significativo.

“Milei convenceu-se de que seu cachorro, Conan, era seu filho. Quando o animal morreu, seu discurso assumiu um tom messiânico, e ele passou a acreditar que estava falando com Deus, que havia sido escolhido”, resume o jornalista. González observa a contradição de Milei, que se autodenomina libertário, mas adota uma retórica religiosa em seu discurso.

Juan González, escritor de “El Loco”. Foto: Reprodução/Instagram

Apesar de criticar vigorosamente a política tradicional, Milei contou com o apoio de peronistas para fundar seu partido. Ao alcançar o segundo turno, ele se aliou a dois líderes da direita tradicional, o ex-presidente Mauricio Macri, a quem chamou de “covarde” e “repugnante”, e Patricia Bullrich, terceira colocada no primeiro turno, a quem chamou de “assassina”.

Na política internacional, os ataques intensos de Milei persistem. Ele classifica Lula como “comunista” e afirma que, se eleito, não negociará com o presidente brasileiro. Além disso, ele frequentemente critica a China, que é o segundo maior destino das exportações argentinas.

González destaca outra semelhança entre Milei, Donald Trump e Jair Bolsonaro: a estratégia de desqualificar o sistema eleitoral. Milei disseminou a tese de que só perderá se houver fraude, contribuindo para uma situação de tensão sem precedentes na democracia argentina. O discurso foi parecido com o adotado por Bolsonaro ao perder as eleições presidenciais de 2022 para Lula.

No mês passado, a Argentina comemorou os 40 anos do fim da ditadura no país. Enquanto Sergio Massa compartilhou o lema “Nunca mais”, Milei preferiu questionar as estimativas que apontam 30 mil desaparecidos políticos. Sua vice, Victoria Villarruel, afirmou que a Argentina só conseguirá sair da crise financeira “com uma tirania”.

González alerta que o discurso da dupla representa um risco concreto para a democracia argentina. Ele pondera a necessidade desse perigo não ser subestimado. “A democracia já está ameaçada na Argentina. O perigo é real”, adverte González.

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