“Bohemian Rhapsody”: o filme do Queen é melhor que a banda. Por Roger Worms

Atualizado em 18 de dezembro de 2018 às 7:53
O Queen no filme “Bohemian Rhapsody”

Eu era menino e estava na sala de estar ouvindo as revoluções criadas em minha cabeça por Beatles, Dylan e Stones quando meu irmão Ricardo apareceu com um disco branco de uma banda nova chamada Queen (devia ser por volta de 1976 ou 77).

Algumas faixas me impressionaram pelo vigor e a diferente sonorização como, “Bohemian Rhapsody”.

Era algo meio parecido com os discos de música clássica de meus pais, misturado com uma guitarra vigorosa, coisas que curtia ouvir em demasia bem garoto.

Não fiquei pegado, não me comoveu, não virei para meu irmão e disse “pusta som, hem?!?!”

Mas observei algo diferente nos caras. Nada como a sensação que tive ao ouvir The Clash (London Calling) ou David Bowie (Heroes) ou Loki do Arnaldo Baptista.

A vida seguiu e o Queen cavou seu espaço na história do rock com competência e profissionalismo ímpares.

Quando chegou aos cinemas o tão badalado e incensado “Bohemian Rhapsody”, resolvi tirar a limpo esse hiato histórico de minha formação.

O filme é poderoso, com requintes e detalhes da reconstrução da história da banda e principalmente de seu cantor Freddie Mercury —  ou Farrokh Bulsara (de uma família  de migrantes oriundos de Zanzibar, residente em Londres), estudante de arte e com uma auto estima acima do convencional, somados ao apreço de gosto duvidoso pelo dramalhão operístico.

Algo que se confirmou para mim ao longo do filme: a química de um grupo de “nerds universitários” adicionada a um artista de assinatura inconfundível fazem do Queen uma banda de obra singular, beirando o cafona em alguns momentos.

Freddie, um grande performer, com poder vocal indiscutível e um carisma glamouroso e afetado, se somava às qualidades do baterista Roger Taylor (ex-futuro dentista), o talentoso guitarrista Brian May (ex-futuro astrofísico ) e o equilíbrio do baixista John Deacon (ex- futuro engenheiro elétrico) em um amálgama vigoroso.

Como diria Rita Lee, “esse tal de rock and roll” criou e pode fazer fortunas e egos descontrolados.

Freddie não foi uma exceção à regra.

Seu talento foi do tamanho de sua ambição e ele virou ídolo também de pessoas oprimidas pelo preconceito e não aceitação da sua sexualidade.

O fantasma do HIV começaria a ceifar vidas de maneira cruel e Freddie virou referência de resistência.

O drama estava completo e a peça operística tomava lugar no mundo real: Freddie estava no centro do palco vigoroso e soberano. A Rainha deveria brilhar!

O Live Aid abre e termina o filme de maneira épica, enquanto outras estrelas e bandas sobem ao palco em tom caridoso e descompromissado.

O Queen sobe ao palco com a faca nos dentes, ensaiado e pronto para fazer história. A atuação segura do ator Rami Malek fazem do filme um blockbuster fenomenal.

Mas a minha impressão continua a mesma: o filme é maior que a banda.