Desde a primeira temporada de “Bojack Horseman”, tento escrever sobre. Mas é tudo tão próximo a mim – a quem quer que assista, gosto de acreditar – que foi difícil, por algum tempo, externalizar.
Até que, no final da quarta temporada – que me arrematou de uma vez, como uma ordem para que eu traduza o que a série mudou em mim – falei com o editor.
“Posso escrever sobre Bojack? Acho a cara dessa geração.” “A melhor coisa da TV mundial ultimamente”, ele disse, “mas a cara dessa geração é o Kim Kataguari.”
Ri de desespero.
Mas não pude deixar de pensar em quantas vezes, em frente à TV, me senti Bojack – um cavalo metamorfo anti-herói depressivo e decadente que já foi astro de cinema.
A mesma desesperança, a mesma tendência a psicotrópicos, a mesma mania de carregar a culpa do mundo nas costas, o mesmo narcisismo fajuto da boca pra fora.
E em quantos amigos meus e em quantas pessoas queridas são meio Bojack. “Somos todos Bojack”, diria um deles.
Cada personagem tem um pouquinho do que esta geração agoniza: Diane leva o nosso medo de tudo e a nossa coragem só pra ser quem a gente é, Princess Carolin a nossa fragilidade diante do medo de falhar, Mr. Peanutbutter a nossa cegueira diante do que não conhecemos, Todd a nossa incapacidade permanente para o flerte – e para a vida –,Sara Linn a existência perdida e autodestrutiva e Bojack a nossa mania de insistir em nós mesmos porque sempre achamos que ainda podemos conseguir.
Você pode se identificar com um deles, à primeira vista, mas em algum momento se verá em todos.
Nenhum episódio escapa à beleza da metalinguagem de Bojack Horseman: um programa de sucesso da TV com um astro de sucesso da TV sobre um programa de sucesso da TV com um astro de sucesso da TV.
Genial.
Bojack escracha o cotidiano – e há algo de que precisemos mais?
Vale a pena ver (-se em) Bojack Horseman.