Bolívia: golpe completa seis meses de retrocessos e violência

Atualizado em 19 de maio de 2020 às 21:46

Publicado no Vermelho

A golpista presidenta da Bolívia no palácio do governo com sua Bíblia gigante

O Golpe de Estado desferido pela extrema-direita da Bolívia completou seis meses no último dia 10 de maio. Desde então, houve 35 mortos, mais de 1.500 pessoas presas e centenas de exilados, entre eles o presidente Evo Morales. Com a pandemia do coronavírus, o quadro é ainda mais alarmante.

O regime, no momento encabeçado pela golpista Jeanine Añez, tem reagido às demandas da população durante a pandemia da mesma forma com que assumiu o poder no país: com repressão, desfaçatez e distorção da realidade. O terrível cenário econômico tem feito parte da população sair às ruas, mesmo com a recomendação de quarentena. Os trabalhadores se veem diante do dilema de ver seus familiares morrerem de fome ou pela infecção do coronavírus.

“Esses seis meses obviamente são negativos, não podia ser de outro modo. Sua característica principal tem sido o uso da força do Estado sobre tudo o que resta de institucionalidade. E dentro desse cenário, as polícias seguem mantendo um predomínio em relação às Forças Armadas”, descreve Hugo Moldiz, ex-ministro do governo deposto, hoje exilado na Embaixada do México, em La Paz.

O sociólogo Boris Ríos, morador de Cochabamba, afirma que o cenário social do país se agravou muito desde o golpe. “Muitos setores da população, que buscam sua sobrevivência no dia a dia nas grandes cidades e no campo, se viram em uma situação ainda mais precária e agora se veem diante da fome e do vírus”, disse.

Eleições indefinidas

A Bolívia deveria ter passado por eleições presidenciais no último dia 3 de maio, mas a emergência da pandemia levou ao adiamento do pleito. No entanto, até o momento nenhuma outra data foi definida.

Diante desse cenário, cresce entre as forças de oposição ao governo golpista o temor de que o caráter supostamente transitório da gestão de Jeanine Añez se prolongue indefinidamente. Tal postura seria incentivada por líderes de direita, já que é grande a chance de Luis Arce, apoiado por Evo Morales, se tornar o novo presidente do país, conforme atestam as pesquisas mais recentes.

Até esta terça-feira, a Bolívia contava com cerca de 4.200 casos confirmados de Covid-19, com 174 mortes.