
Após o encontro entre o presidente Lula (PT) e Donald Trump no último fim de semana, o bolsonarismo passou a adotar um novo discurso para reduzir o impacto político e diplomático da reunião, conforme informações da colunista Malu Gaspar, do Globo.
Agora, aliados de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) dizem que o tema central não são mais as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, mas sim as sanções contra autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo essa nova linha, o encontro entre os dois presidentes não teria significado prático. “Uma foto e uma conversa não são nada”, disse um aliado de Eduardo. “Vamos aguardar”, disse, argumentando que o tarifaço foi “algo que nós nunca pedimos”.
Eduardo Bolsonaro reforçou o discurso em suas redes sociais. “Apesar de nunca termos pedido tarifas, elas vieram devido ao comportamento autoritário das instituições brasileiras, por isso chamamos de ‘Tarifa-Moraes’”, publicou no X.
Deixe as narrativas de lado. De fato temos:
-Vistos seguem cancelados
-Sanções Magnitsky mantidas
-Nem tarifa tiraramApesar de nunca termos pedido tarifas, elas vieram devido ao comportamento autoritário das instituições brasileiras, por isso chamamos de "Tarifa-Moraes".
Na…
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) October 27, 2025
Antes da reunião, no entanto, o próprio Eduardo havia apoiado publicamente as tarifas impostas por Trump, em nota conjunta com o golpista Paulo Figueiredo. No documento, os dois afirmaram que as sanções “foram aplicadas de forma correta” e que o governo americano estava “reagindo aos abusos cometidos por Alexandre de Moraes”.
“Desde o início da nossa atuação internacional buscamos evitar o pior, priorizando que sanções fossem aplicadas de forma individualizada, com foco no principal responsável pelos abusos: Alexandre de Moraes”, dizia o texto. “Trump entendeu que esse establishment também precisa arcar com o custo dessa aventura”.
Reação à aproximação entre Lula e Trump
O encontro entre Lula e Trump ocorreu em Kuala Lumpur, na Malásia, e durou cerca de 50 minutos. O presidente brasileiro entregou um documento com propostas de negociação, incluindo a suspensão da tarifa de 50% e o retorno da alíquota anterior de 10%, além da criação de exceções para produtos como carne e café.
Durante a entrevista coletiva após a reunião, Lula revelou que também pediu o fim das sanções impostas a autoridades brasileiras, como a revogação dos vistos de entrada nos EUA e o cancelamento das medidas da Lei Magnitsky contra Moraes.
Trump, no entanto, não deu resposta direta aos pleitos. Ao embarcar para o Japão, limitou-se a dizer: “O Brasil quer um acordo. Vamos ver o que vai acontecer.”
Tentativa de minimizar o impacto político
A ausência de anúncios concretos foi usada pelos bolsonaristas mais radicais para sugerir que Trump teria rejeitado as propostas de Lula.
Nas redes sociais, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que “Trump disse não”, enquanto Eduardo Bolsonaro declarou que “nem o tarifaço foi suspenso, nem as sanções foram retiradas”.
“Na mesa apenas [foi] exposta a incompetência de Lula em ajudar o Brasil. Ele só ajuda Moraes ao legitimar seu discurso, botar a AGU para gastar o dinheiro do pagador de impostos contratando escritórios americanos e vendendo vitória quando na verdade não há o que comemorar”, escreveu o deputado.
Governo Lula foca nas tarifas
Logo após o encontro, as equipes de negociação dos dois países se reuniram novamente para traçar um cronograma de novas tratativas. Está prevista a ida do vice-presidente Geraldo Alckmin aos Estados Unidos nos próximos dias para discutir as tarifas.
Do ponto de vista do governo brasileiro, o foco é claro: reduzir as tarifas comerciais e retomar o fluxo de exportações. As sanções permanecem na pauta, mas como tema secundário.