
Em nova estratégia para defender Jair Bolsonaro das acusações de envolvimento na tentativa de golpe de Estado, seus filhos e aliados políticos estão utilizando declarações do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), para criar um contraponto ao relator do caso, Alexandre de Moraes.
Fux foi o único ministro da Primeira Turma, além de Moraes, a comparecer à primeira sessão de depoimentos dos réus. O STF retoma nesta terça-feira (10) os interrogatórios dos réus na ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022.
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) compartilharam nas redes sociais trechos do questionamento de Fux ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O militar foi o primeiro a depor por ser delator.
O ministro perguntou se a minuta que abria caminho para um golpe havia sido assinada pelo ex-presidente, e Cid respondeu que não, acrescentando que havia preocupação no Exército de que Bolsonaro pudesse assinar o documento sem consultar seus comandantes, já contrários à medida.
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O recorte do julgamento foi amplamente divulgado por bolsonaristas, numa tentativa de colocar Fux em oposição a Moraes. No entanto, a dinâmica da sessão mostrou os dois ministros atuando com respeito e alinhamento – Moraes chegou a agradecer a presença de Fux. Além disso, a ausência de assinatura no documento não é o foco central do processo, que investiga a tentativa de golpe, e não sua consumação.
A base bolsonarista, porém, ignorou revelações feitas por Mauro Cid, que complicam ainda mais a situação do ex-presidente. Cid afirmou que Bolsonaro, ainda na Presidência, editou pessoalmente uma minuta golpista, retirando a previsão de prisão de autoridades do Judiciário e Legislativo – mantendo apenas Alexandre de Moraes como alvo.
“De certa forma, ele (Bolsonaro) enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Moraes) ficaria como preso”, declarou o tenente-coronel.
A tentativa de instrumentalizar Fux politicamente não é inédita. O ministro já havia sido alçado pelos bolsonaristas como uma possível voz dissonante no STF após votar por pena branda para a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou a estátua da Justiça em 8 de janeiro, e por questionar aspectos da delação de Mauro Cid.
No entanto, durante a audiência com os réus, Fux não demonstrou qualquer ruptura com a condução de Moraes, mantendo-se dentro da linha estabelecida pelo relator.