Bolsonaristas insistem em sanções contra o STF antes do encontro entre Lula e Trump

Atualizado em 22 de outubro de 2025 às 22:03
Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva em montagem de duas fotos
Os presidentes dos EUA e do Brasil, Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva – Reprodução

Às vésperas de um possível encontro bilateral entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), aliados de Jair Bolsonaro (PL) buscam mobilizar o governo americano por novas sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Com informações do jornal O Globo.

O entorno do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — que está proibido de se comunicar com o pai por determinação do ministro Alexandre de Moraes no inquérito que apura sua campanha por retaliações do governo Trump ao Brasil — repassou a interlocutores do ex-presidente que continuará articulando sanções financeiras no âmbito da aproximação Brasil-EUA.

Após a reunião em Washington entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano Marco Rubio, o recado foi reforçado. Agrava-se que nesta quarta-feira (22) completa um mês desde a ação mais recente dos EUA: a aplicação da lei Lei Magnitsky à advogada Viviane Barci de Moraes, esposa de Moraes.

Enquanto isso, Lula e Trump já se encontraram nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas e o líder americano afirmou que houve “excelente química” entre eles. Um telefonema recente reforçou os esforços de aproximação entre Brasília e Washington, que podem resultar no encontro bilateral no próximo fim de semana na Malásia.

deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com cara de assustado sem olhar para a câmera
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) – Reprodução

Aliados de Eduardo confirmaram que o parlamentar apresentou à administração Trump o pleito por novas ações contra magistrados — com foco na Primeira Turma do STF, que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão no mês passado, à exceção do ministro Luiz Fux, que se posicionou pela absolvição e está de saída do colegiado.

Embora nomes como o decano Gilmar Mendes e o atual presidente da Corte Edson Fachin sejam mencionados nos bastidores bolsonaristas, não são prioridade no momento. Os interlocutores, porém, não souberam indicar se existe uma frente concreta do governo americano preparando novas sanções associadas às negociações com o Brasil.

Desde o encontro entre Rubio, Vieira e o representante comercial da Casa Branca Jamieson Greer, Eduardo e seu articulador, o ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo, têm divulgado nas redes sociais que acompanham de perto o diálogo Brasília-Washington e afirmam que “não há avanço na relação entre as duas nações”.

Como exemplo de intransigência americana, citam falas do secretário do Tesouro Scott Bessent e de Greer, que na véspera da reunião associaram o “tarifaço” dos EUA sobre produtos brasileiros à atuação do STF em suposta violação de direitos humanos no Brasil — com menções indiretas a Alexandre de Moraes e à prisão de opositores, sem citar Bolsonaro.

A aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso foi explorada nas redes por Eduardo como um “trunfo” para a campanha de sanções, sugerindo que a saída teria sido motivada por receio de uma medida da Lei Magnitsky — ainda que o processo de indicação para o STF não estivesse previsto pelo governo do PT.

Apesar da posição do Itamaraty de que decisões do Judiciário não serão negociadas pelo Brasil, as conversas avançam.
Na ofensiva inicial dos EUA, o bolsonarismo condicionou diálogo à aprovação de uma anistia “ampla, geral e irrestrita” para envolvidos na trama do 8 de janeiro, texto que segue emperrado no Congresso. Agora, o encontro entre Lula e Trump caminha para se concretizar.

Em relatórios diplomáticos, nas conversas entre Mauro Vieira e Marco Rubio não houve menção a Jair Bolsonaro, assim como na ligação entre Lula e Trump. O presidente americano também não citou publicamente o aliado brasileiro.

O cenário mostra que só quando os EUA colocarem sobre a mesa critérios para negociar tarifas contra o Brasil será possível medir o apetite republicano para pressionar a economia brasileira. Enquanto isso, Bolsonaro se vê cada vez mais próximo do início do cumprimento de pena em regime fechado pela tentativa de golpe contra Lula.

Jessica Alexandrino
Jessica Alexandrino é jornalista e trabalha no DCM desde 2022. Sempre gostou muito de escrever e decidiu que profissão queria seguir antes mesmo de ingressar no Ensino Médio. Tem passagens por outros portais de notícias e emissoras de TV, mas nas horas vagas gosta de viajar, assistir novelas e jogar tênis.