Esse texto só é digno de ser publicado se antes dermos uma informação fundamental para que você possa melhor compreendê-lo: 100 por cento das 31 pessoas com quem conversamos na tarde deste domingo, na avenida Paulista, durante a manifestação, morna, em defesa de Sergio Moro, Jair Bolsonaro, reforma da Previdência, pacote anticrime, etc, entende que a mídia tradicional, Globo acima de todos, é comunista e estava envolvida no projeto do Foro de São Paulo com objetivo de transformar a região do cone Sul da América Latina em um regime semelhante ao da ex-União Soviética.
É o caso, por exemplo, de Luiz Antônio, que foi com a mulher Cristina Vanessa e ficou atento a tudo que se dizia no carro de som do Movimento Brasil Conservador, que tem Olavo de Carvalho entre seus gurus.
“Foi ele quem nos alertou sobre essa ameaça”, diz Luiz, que garante ter lido um livro de Olavo mas não se lembra mais do título. “Graças a ele o povo abriu os olhos”.
Funcionário de uma firma de segurança, Luiz também defende a reforma da Previdência, acreditando – olha aí a contradição – no discurso da velha mídia, Globo à frente de novo – de que o modelo atual fracassou e que, sem o arrocho, não vai sobrar dinheiro para honrar as aposentadorias em pouco tempo.
Segundo o segurança, a chiadeira de quem é contra o fim da aposentadoria está alicerçada num fato interessante: o brasileiro não sabe poupar.
Perguntei se, juntando o salário dele com a esposa, seria possível separar um pequeno valor que fosse para a velhice.
Diante do olhar estranho de Cristina Vanessa, Luiz desbaratinou. “A reforma é o ideal? Óbvio que não, mas do jeito que está não dá pra ficar”.
Vamos para a próxima.
Comemorando neste domingo 41 anos de casamento com Maria do Carmo, o empresário João Barreto também entende que e reforma é fundamental para que o país retome o caminho do crescimento. Ele é proprietário de duas empresas, uma com seis e outra com algumas dezenas de funcionários.
Diz que só ele sabe o quanto a folha de pagamento pesa nas costas e conta que tem diversos projetos parados justamente pela desconfiança em relação à capacidade de honrar os compromissos se vier a aumentar a despesa com funcionários.
Acredita em Bolsonaro, diz que conheceu Lula pessoalmente e que o grande erro do petista foi se juntar a José Dirceu.
“Fui da UNE”, disse em tom de orgulho. “Conheço o Zé Dirceu desde que ele traiu seus companheiros na ditadura”.
Moro? Um herói para o empresário e a esposa. Vazamentos que revelam a fraude da Lava Jato? Coisa de hacker bandido.
“Ainda que os diálogos sejam reais, não há nada de errado ali. É óbvio que o juiz vai orientar os procuradores, assim como orienta os advogados de defesa. Esse é o papel dele. Lido com isso há 40 anos”.
Então, tá.
Hoje foi dia de almoçar com as crianças no Brazeiro da rua Luís Gois.
Assim que me despedi de Alice e Mateus encostei em Robson Vasconcelos, 37 anos, casado, pai de dois filhos e que trabalha como cabeleireiro em Guarulhos. Seguimos a pé até o metrô. Ele conta que antes de tudo apoia o Brasil.
Também repete que os vazamentos são criminosos e que é preciso encontrar e punir o hacker que invadiu o celular de Moro, dos procuradores da Lava Jato e outras autoridades.
Conta que votou no Lula, em Dilma, mas a partir do segundo turno de 2014, quando foi de Aécio, decidiu por outro caminho. “Cansei de tanta corrupção. Bolsonaro e as mídias sociais nos libertaram da Globo e da imprensa comunista”.
Reforma da Previdência? Robson está com Paulo Guedes e não abre. “Do jeito que está não dá pra ficar”.
Para não dizer que entoei o samba de uma nota só da estação Brigadeiro, onde desci com o cabeleireiro Robson, até a Consolação, vale destacar a conversa com Carla Cristina, ambulante que estava com o carrinho abarrotado de catuaba, cerveja, vodka barata etc.
Ela conta que as vendas foram fraquíssimas.
“Esse pessoal não gosta de ambulantes”, diz. “Passam e me dizem que o que estou fazendo é proibido. Em dois lugares é assim. Nas manifestações pró-Moro e Bolsonaro e nas proximidades do estádio do Palmeiras”.
– E nas manifestações da CUT?, eu quis saber.
Carla Cristina então abriu o sorriso que, por motivos óbvios, não fotografei.
– Aí é top, hein!
Camisas da seleção e bandeiras não saíram como os vendedores esperavam, talvez pela expectativa de público não ter alcançado o que se esperava.
Bandeiras do Brasil não estavam saindo a R$ 20, segundo Cayman Alonso. Segundo ele, as da comunidade LGBT esgotaram – uma centena – a R$ 40 na semana passada.
“Hoje não foi bom, mas vida que segue”, disse o vendedor.
Já próximo de mandar esse texto e abrir uma latinha de Skol que ninguém é de ferro, perguntei a João Marins, contador, o que fazia com a camisa do Santos e não da seleção.
“Luto pelo Brasil e honro o país que é meu”, falou, antes de ajoelhar tão logo o carro de som do MBL anunciou o fim da brincadeira e mandou ver o hino nacional.
De fato Globo e seus similares estão fazendo um grande trabalho pelo Brasil: os bolsominons estão com o noticiário na ponta da língua.