
Dois vereadores bolsonaristas de Belo Horizonte (MG) tentaram censurar a exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH), na tarde de quarta (8). Flávia Borja (Progressistas) e Irlan Melo (Republicanos) exigiram a reclassificação etária ou o fechamento da mostra, alegando ter recebido queixas de pais sobre a presença de nudez artística. Detalhe: são os bolsonaristas que denunciam, inclusive em solo estrangeiro, que a liberdade de expressão esta sendo castrada no Brasil e que o país está virando uma ditadura.
Segundo o Brasil de Fato, a ação causou tumulto no local e mobilizou a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Guarda Municipal. A vereadora Juhlia Santos (Psol) compareceu ao CCBB para acompanhar a situação e criticou a atitude dos parlamentares, classificando-a como uma tentativa de censura.
Ela afirma que todas as exposições passam por análise do Ministério da Justiça, responsável pela classificação indicativa. “Não cabe ao desejo de um vereador decidir o que a população vai acessar como cultura e o que é ou não arte”, afirmou.
Após uma reunião entre os vereadores e a direção do CCBB-BH, ficou decidido que a exposição permaneceria aberta. A instituição apresentou os documentos oficiais que autorizam sua realização e esclareceu que a mostra está classificada como livre. Os vereadores foram orientados a recorrer ao Ministério da Justiça caso quisessem contestar a classificação.
Entre os visitantes que presenciaram o tumulto estava a professora Graziela Mello Vianna, da UFMG, que relatou ter visto os vereadores e policiais circulando entre as obras. “Eles falam do erotismo das obras, mas são trabalhos da década de 1980, marcados pelas Diretas Já e por debates sobre liberdade e sexualidade. É irônico que uma mostra sobre censura seja alvo de tentativa de censura”, disse.

A exposição Fullgás, aberta desde 27 de agosto, reúne cerca de 300 obras de mais de 200 artistas, entre eles Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Leonilson e Leda Catunda. A curadoria é de Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo. Dividida em cinco núcleos, a mostra aborda temas como redemocratização, cultura pop, erotismo e a epidemia de HIV.
O CCBB-BH informou que as obras com nudez são apresentadas dentro de um contexto artístico e histórico e seguem as diretrizes do Ministério da Justiça. O episódio, porém, expôs um novo embate sobre liberdade de expressão e censura cultural, reacendendo discussões que marcaram o período retratado pela própria mostra.
Os vereadores envolvidos ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o caso.