Bolsonaristas que ofenderam povo chinês em protesto no consulado em São Paulo são investigados por racismo

Atualizado em 11 de junho de 2020 às 8:33
Protesto contra a China

Os bolsonaristas que protestaram em frente ao Consulado Chinês de São Paulo estão sendo investigados pela Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Segundo relato encaminhado à polícia, os manifestantes usaram expressões racistas contra o povo chinês, ecoando o post do ministro da Educação, Abraham Weintraub.

No início de abril, Weintraub atacou a China. Para isso,  usou no post personagens do quadrinista Maurício de Souza e o sotaque de Cebolinha.

Weintraub sugeria que o coronavírus era parte de um plano da China para dominar o mundo.

”Geopolíticamente [sic], quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu Weintraub.

Depois, ele apagou o post.

Em São Paulo, na mesma época, os manifestantes de extrema direita foram até a frente do Consultado da China para gritar “criminosos”, “governo comunista maldito”, “malditos demônios”, entre outras expressões de ódio e preconceito.

Uma das pessoas que protestaram é a militante de extrema direita Cristina Maria Rocha Araújo, aquela que provocou com taco de beisebol manifestantes pró-democracia em ato no dia 31 de Maio, na avenida Paulista.

Filha de coronel do Exército, ela costuma dizer que tem costas quentes, por ser amiga do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas e do secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos.

No inquérito que apura o crime de preconceito racial, Cristina prestou depoimento como investigada na última terça-feira, dia 9 de junho. Seu interrogatório é mantido em sigilo.

A militância antichinesa de Cristina é pública. Em live do também extremista Paulo Kogos, o carro dela é apresentado com faixas grandes contra a China. Em uma delas, chama a covid-19 de pneumonia chinesa.

Extremista Paulo Kogos apresenta carro de Cristina Rocha com faixas ofensivas à China

Difícil entender por que tanta hostilidade em relação ao país asiático se se considerar que a China é disparado o principal parceiro econômico do Brasil.

Tanta agressividade só se justifica na hipótese de esse grupo tenha alguma relação com os interesses de Donald Trump, que ressuscitou a guerra fria em sua disputa com a China. Para o Brasil, esses ataques não interessam.

Se indiciados e condenados, os manifestantes que ofenderam o povo chinês podem pegar de um a três anos de reclusão por “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.”

É o que define o artigo 20 da Lei 7.716/89.

Segue a nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo:

A pessoa citada (Cristina Rocha) é investigada em um inquérito policial instaurado pela Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi) que apura a prática, indução ou incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, conforme previsto na Lei 7.716/89 (Art.20), durante um ato realizado no mês de março em frente ao Consulado Geral da China em São Paulo. As informações colhidas no depoimento da referida investigada fazem parte de uma investigação ainda em curso, razão pela qual não se justifica sua publicidade. O conteúdo será anexado ao inquérito e relatado ao Poder Judiciário quando o procedimento for concluído, como de praxe.

Os episódios relativos às manifestações do dia 31 de maio são investigados pelo 78ºDP.  Até o momento, a pessoa citada não figura como investigada, o que pode ocorrer no curso do inquérito, à luz das apurações, conforme prevê a Lei.  Importante ressaltar ainda que, na ocasião, o policial que interveio na desavença em que ela estava envolvida fez uso do diálogo para retirá-la de perto dos manifestantes do lado contrário, empregando – como deve ser – o uso progressivo da força. Contudo, errou ao não apreender o taco, conforme o próprio secretário da Segurança afirmou publicamente. O policial foi reorientado.

Em que pese à pessoa citada já ter participado de solenidades militares em que o atual secretário da Segurança Pública também estava, não há relação alguma de amizade entre os dois. A Secretaria da Segurança Pública é uma instituição legalista que atua exclusivamente para garantir os direitos dos cidadãos e a ordem pública, com absoluto respeito às leis e sem qualquer distinção entre as pessoas.