Bolsonaro já disse que aborto é decisão da mulher: “Não compete ao outro lado”

Atualizado em 7 de abril de 2022 às 12:06
Bolsonaro em entrevista à revista IstoÉ
Declaração de Bolsonaro em entrevista à revista IstoÉ, em 2000

Em 2000, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deu uma declaração similar à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o aborto. “Tem que ser uma decisão do casal”, disse o atual chefe do Executivo na ocasião, em entrevista à revista Istoé Gente. A fala de Lula, que defendeu que a prática seja discutida como uma questão de saúde pública, foi criticada tanto por bolsonaristas quanto por petistas ao longo da quarta-feira (6).

Ao ser perguntado pela IstoÉ sobre a legalização do aborto, ele respondeu: “Tem que ser uma decisão do casal”, acrescentando que já passou por essa situação. “Passei para a companheira. E a decisão dela foi manter. Está ali, ó”, disse, apontando para a foto no mural de seu filho mais novo, Jair Renan, que na época tinha 1 ano e meio.

Ele manteve esse ponto de vista em entrevista à Folha, em 2018, quando já era candidato à Presidência da República. “Não compete ao outro lado”, o do homem, decidir se a mulher deve ou não interromper uma gravidez. “Vamos supor que eu tenho um relacionamento contigo. Você quer o aborto”, disse ele à repórter, reforçando que caberia a ela definir o que fazer nesse caso.

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Bolsonaro passou a ser contra o aborto depois de eleito

Bolsonaro em ato contra aborto
Bolsonaro em ato contra aborto, em 2020

Foi somente após o início de seu mandato que Bolsonaro passou a se manifestar contra a prática. Em abril de 2020, ele recebeu um grupo de ativistas “pró-vida” no Palácio do Planalto. Eles foram pedir o apoio do presidente contra legalização da interrupção da gravidez. Na época, o Supremo Tribunal Federal (STF) estava prestes a realizar um julgamento sobre o tema.

Bolsonaro posou com um quadro que trazia a imagem de Jesus e a mensagem “Jesus eu confio em vós”. Ele ainda segurou a miniatura de um feto de plástico entregue a ele pelos ativistas.

Já em dezembro do mesmo ano, ele repudiou a aprovação do aborto legal pela Argentina. O presidente usou as redes sociais atacar a soberania do país. “Lamento profundamente pelas vidas das crianças argentinas, agora sujeitas a serem ceifadas no ventre de suas mães com anuência do Estado. No que depender de mim e do meu governo, o aborto jamais será aprovado em nosso solo. Lutaremos sempre para proteger a vida dos inocentes!”, escreveu o hipócrita.

A polêmica em torno da fala de Lula

A celeuma em torno da declaração — correta — de Lula, alimentada sobretudo por bolsonaristas e lideranças evangélicas, é de uma hipocrisia abjeta.

Em evento virtual com membros do Parlamento Europeu, o ex-presidente lembrou que mulheres pobres morrem ao tentar abortar enquanto “madame pode fazer um aborto em Paris” ou “ir para Berlim procurar uma clínica boa”.

“Aqui no Brasil ela não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha”, falou.

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