Bolsonaro! Ausente. Por Miguel Paiva

Atualizado em 14 de novembro de 2022 às 12:33
O presidente Jair Bolsonaro (PL)
Foto: Reprodução/Isac Nóbrega/PR

Por Miguel Paiva

Lembro dos anos em que vivi na Itália e que se dizia que o governo democrata cristão era melhor quando não estava governando, nos vácuos do parlamentarismo. Sem governo a Itália andava, se dizia. Claro que é um mito apesar da ineficácia do governo italiano que era evidente. Aqui no Brasil agora acontece uma coisa parecida. Bolsonaro se recolheu ao Palácio da Alvorada e não governa mais. Uma indicação aqui, uma reação ali e mais nada. Lula já começou a governar apesar do período de transição.

Alguém disse que era a primeira vez em que um governo duraria 4 anos e dois meses. Pelo menos toda a atenção da mídia, primeiro a favor e agora já com algumas pitadas esperadas contra, está voltada para o governo que entra, ainda bem. Essa reação só prova que o governo que sai era totalmente dispensável. Causou um prejuízo enorme ao país e agora chega. Vai dar trabalho a reconstrução o que justifica, talvez, a antecipação. Lula viaja para a COP-27 já como um grande estadista aguardado. Bolsonaro vai ficar sonhando com os tempos em que ele e Trump eram amiguinhos. O americano nem deve mais lembrar quem era esse tal de Jair.

Aliás, Trump agora deve ter mais coisa com o que se preocupar. Essas eleições de meio de mandato, assim como as nossas, assustaram mais antes do que com o resultado que lá começa a aparecer. Não só as composições da Câmara como a do Senado estão diferentes do que se temia como várias outras coisas foram votadas e para surpresa de todos, aprovadas. O direito ao aborto que a Suprema Corte tinha devolvido aos estados foi aprovado em vários lugares onde se esperava uma rejeição. Estados republicanos votaram a favor das mulheres dando um sinal de ligação com os novos tempos. O uso recreativo da maconha também foi aprovado onde não se esperava, além do já tradicional uso medicinal. Até o direito à escravidão, pasmem, foi julgado e recusado.

Não podemos esquecer que essas são as primeiras eleições depois da desastrosa invasão do Capitólio comandada por Trump após sua derrota para Biden. Parece que os americanos não esqueceram. O resultado podia ser muito pior. Isso segura o trumpismo apesar de forçar os democratas a uma revisão no seu modo de governar. Verdade que as americanas são eleições estranhas numa democracia ainda mais estranha. Mas, lá no fundo, acaba aparecendo a vontade popular.

O que é bom para os EUA é bom para o Brasil, se dizia e se acreditava nisso. Apesar disso, vamos esperar que esses ventos soprem suavemente para os nossos lados. Com o novo governo já começamos e não é por outro motivo que Biden quer se encontrar logo com Mr. Lula. Um novo mundo se abre e desta vez voltado para as Américas. A Europa, apesar de continuar a ser berço da política, vive tempos de refluxo. A América Latina com Lula e os outros políticos progressistas eleitos (ressalto, eleitos) determinam esses novos tempos que, espero, durem, mesmo que tenhamos que discutir a descriminalização do aborto e das drogas. Já é hora.

Texto publicado originalmente em Jornalistas Pela Democracia

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