Bolsonaro cancela demissão do adido da PF em Madri e complica aliado indicado para o cargo

Atualizado em 28 de dezembro de 2022 às 19:06
Bolsonaro em cerimônia da Polícia Federal

Em 19 de dezembro, o Diário Oficial da União estampou a exoneração do delegado de Polícia Federal Delano Cerqueira Bunn do cargo de adido policial da Embaixada do Brasil em Madri, na Espanha. O decreto de exoneração foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro Anderson Torres, da Justiça.

Um dia depois, em 20 de dezembro, a mesma dupla assinou outro decreto, desta feita, para nomear, a 11 dias do fim do governo, outro delegado para o cargo, Márcio Nunes de Oliveira – ninguém menos que o diretor-geral da PF.

O descaramento da ação – Oliveira trabalhou pesado para salvar a pele da família Bolsonaro, inclusive afastando delegados de inquéritos incômodos – ganhou ares de escândalo, dentro e fora da corporação. Inclusive porque, para ser nomeado em Madri, o atual diretor-geral, afilhado político do ministro Torres, de quem havia sido secretário-executivo da pasta da Justiça, teria que rebaixar e subordinar o adido ainda em exercício para o cargo de oficial de ligação. A reação interna e a repercussão na mídia obrigaram o presidente e o ministro a recuarem, na surdina, 24 horas depois.

Assim, em 22 de dezembro, um novo decreto (veja abaixo), publicado um dia depois no DOU, tornou sem efeito a exoneração do delegado Delano Bunn, que continuará adido em Madri. Agora, a única chance de Márcio de Oliveira ocupar o cargo é contar com a boa vontade do futuro diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, em manter a tradição interna de presentear o antecessor com uma função no exterior.

Até lá, Oliveira terá duas alternativas: amargar o ostracismo em cargos irrelevantes, dentro da instituição, ou seguir o chefe, Anderson Torres, para a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, novamente, como subalterno.

O decreto que tornou sem efeito a dipensa de Delano Cerqueira Bunn. Reprodução D.O.U. de 23/12/2022