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Bolsonaro coloca a Federação em risco. Por Gilberto Maringoni

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Por Gilberto Maringoni

Bolsonaro. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Se pensarmos em pacto federativo – base do SUS -, é correto a União controlar a saúde pública e dirigir a campanha nacional de vacinação. Ou seja, é correto Brasília exigir que São Paulo entregue as vacinas do Butantan ao ministério da Saúde. O Brasil é um só e a unidade nacional não pode ser colocada em pauta.

Mas o que Bolsonaro faz é o contrário, sob o manto de resguardar o interesse de todo o país. Não se trata apenas de confiscar as vacinas paulistas depois de mover uma sórdida campanha de desqualificação da fórmula oriunda da China, não se trata apenas de ele estabelecer sempre a desestabilização institucional como horizonte de sua manutenção no poder.
Trata-se de criar uma empulhação nacional, no momento imediato de ver sua estúpida tentativa de obter o imunizante indiano, cuja negociação ficou a cargo dos crápulas Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo. O governo do país asiático desferiu-lhe, em público, um humilhante tapa na cara.
Assim, as vacinas paulistas não serão confiscadas em nome da federação, mas em nome de se evitar um vexame oficial.
Façamos uma continha. Seis milhões de doses diante de 210 milhões de habitantes serão distribuidas como? Se forem espalhadas por todo o país, atingirão 2,85% da população, algo para lá de insuficiente para se estabelecer um plano consistente de imunização. Servirá para disseminar imagens nas redes sociais bolsonaristas de alguns poucos recebendo injeções de CoronaVac como se houvesse um esforço real de erradicação do vírus.
Neste momento, conjunturalmente e excepcionalmente, Dória está certo em recorrer ao STF. Qualquer das duas soluções é problemática, a nacional por ser empulhação pura, a paulista por priorizar apenas uma unidade subnacional. No entanto, a saída paulista equivale a impedir que Bolsonaro siga pautando a doença como forma de aumentar o caos e seguir com sua política de extermínio.
Lembremos sempre: o novo coronavírus nos impede de ir às ruas protestar, impede que milhões de brasileiros formem um vigoroso movimento de massas contra a escória que nos governa. Por isso Bolsonaro torce pela pandemia. Ela vem a calhar para seu governo genocida. Todos os esforços devem ser feitos para que ele não confisque o material do Butantan.

Na imagem, a carta do governo federal ao Butantan exigindo as vacinas.

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da UFABC e candidato do PSOL ao governo de São Paulo, em 2014

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