Maioria vê Bolsonaro como principal culpado pelo aumento de crimes na Amazônia, diz Datafolha

Atualizado em 26 de junho de 2022 às 9:52
Desmatamento da Amazônia
Foto por: Ibama/Divulgação

Em evidência pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, aproximadamente 4 em cada 10 brasileiros pensam que o governo de Jair Bolsonaro (PL) mais incentiva do que combate as ilegalidades na Amazônia como a ação de caçadores e pescadores irregulares, a invasão de terras indígenas, o desmatamento e o garimpo clandestino.

Segundo a pesquisa Datafolha feita com 2.556 pessoas acima dos 16 anos em 181 cidades, na quarta e quinta-feira (22 e 23), mostrou que fica entre 39% e 43% a parcela da população que vê sob o atual presidente uma política mais de estímulo do que de enfrentamento aos quatro problemas. A gestão Bolsonaro é criticada pelo desmonte de órgãos e falta de ações na região. Por outro lado, um percentual que vai de 31% a 35% avalia o oposto em relação aos tópicos do questionário. São cerca de 3 em cada 10 pessoas que acham que o governo mais combate do que incentiva a criminalidade no território amazônico em geral e nas comunidades indígenas.

A parcela neutra, dos que afirmam que Bolsonaro não fomenta nem reprime os crimes, oscila entre 8% e 10%, e os que não sabem opinar sobre os tópicos correspondem a algo entre 13% e 18%. A margem de erro da pesquisa, contratada pela Folha e registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número 09088/2022, é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Responsável por mais um abalo na reputação do governo no tocante à política ambiental, o caso de Bruno e Dom chegou ao conhecimento de 76% dos entrevistados. Nesse grupo, 25% se dizem bem informados sobre o episódio, 38% o conhecem parcialmente e 12% se consideram mal informados.

No total, 24% respondem que não souberam do desaparecimento e morte do funcionário licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio) e do repórter britânico no Vale do Javari (AM), apesar da intensa cobertura noticiosa no Brasil e no exterior e da repercussão em redes sociais. A investigação do caso, a cargo da Polícia Federal e da Polícia Civil do Amazonas, já prendeu quatro homens suspeitos e busca identificar eventuais mandantes.

Bolsonaro defende garimpos em terras indígenas e preservadas desde antes de assumir o Palácio do Planalto. Na campanha de 2018, ele prometeu que, em seu mandato, não haveria demarcações. Declarou também que daria uma “foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço”. Só nos cinco primeiros meses de 2022, a floresta amazônica perdeu 3.360 km² por causa do desmatamento, maior valor registrado para o período em 15 anos de monitoramento do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).

Além de minimizar a gravidade do problema e culpar as vítimas por realizarem uma “aventura não recomendada”, Bolsonaro disse que Dom “era malvisto na região” porque fazia reportagens contra garimpeiros e sobre questões ambientais, mas não anunciou medidas para reduzir e fiscalizar os problemas que ele mesmo apontou serem objeto do trabalho do repórter.

Os homicídios expuseram uma série de ações criminosas e conflitos na região, que passam por pesca e caça ilegais, invasões e tráfico internacional de drogas. Parte das ameaças ao ambiente e às comunidades da área tem sido denunciada por entidades como a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), para a qual Bruno trabalhava como assessor depois de ter sido retirado, no governo Bolsonaro, da seção da Funai que cuida de povos isolados.

Em entrevista à Folha, 44 dias antes de desaparecer durante uma incursão na floresta ao lado de Dom, o indigenista disse que proteger aquele ecossistema estava “difícil, cansativo, perigoso” e associou Bolsonaro e o atual comando da Funai ao que chamou de “administração do caos”.

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