Bolsonaro ‘desistiu’ do golpe e o jornalismo desistiu da pauta. Por Moisés Mendes

Atualizado em 29 de outubro de 2025 às 7:38
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

A tese dos advogados de Bolsonaro, de que em algum momento o chefe do golpe desistiu do golpe, apresentada agora ao Supremo, não é nova.

Foi defendida durante o interrogatório de Bolsonaro no STF, em junho, e ninguém deu muita bola. Saíram notícias nos cantinhos, e a pauta foi abandonada.

Lá em junho, o advogado Celso Villardi mostrou, em áudio com a voz de Mauro Cid, que o coronel sabia de uma coisa importante: Bolsonaro havia desistido do golpe.

E ali estava a prova. Cid contava a um general, em mensagem gravada em 8 de novembro de 2022, que um grupo de empresários havia se reunido com Bolsonaro para pedir o golpe, uma semana depois da eleição de Lula. E que Bolsonaro havia saltado fora.

Esse é o texto tirado do áudio de Cid:

“Oi, general, bom dia! É, ontem o presidente, eu senti que ele já praticamente… Acho que desistiu de qualquer coisa, de qualquer ação mais contundente. Ontem, por várias vezes, ele comentou que o governo Lula, que um possível governo Lula, como ele sempre fala, não daria certo. Ele [Lula] vai meter o pé pelas mãos, é, ele vai botar os servidores todos contra ele. Tanto que ontem ele [Bolsonaro] comentou e pediu para deixar tudo andar em termos de relatório, não quer que ninguém fique pressionando nada. Ele conversou bastante tempo com o Valdemar (Costa Neto) também no começo da tarde.

Ontem, o general Pazuello esteve com ele dando sugestões, ideias de como ele podia de alguma forma tocar o artigo 142, uma coisa assim. Ele desconversou, não quis nem saber, não deu bola para o que o general Pazuello estava levando para ele. Também deixou o general Paulo Sérgio (Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa) tranquilo com relação ao prazo de entrega e ao que vai ser escrito no relatório (sobre desconfianças com as urnas).

Inclusive, deu até a entender que o que estiver lá tá bom, o que escrever está ótimo. Aquele outro relatório do IVL [Instituto Voto Legal], que deve estar saindo também, não quis pressionar Valdemar, deixou rodar. E, na conversa que ele [Bolsonaro] teve depois com os empresários, ele… estava o Hang, aquele cara da Centauro (Sebastião Bomfim Filho), estava o Meyer Nigri (dono da Tecnisa), o cara da Coco Bambu (Afrânio Barreira) também.

Ele (Bolsonaro) também falou: ‘olha, o governo Lula vai, vai, vai cair de podre’. E o pessoal ficou um pouco de moral baixa porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a pressionar o MD (Ministério da Defesa) e fazer um relatório contundente e duro para virar o jogo, aqueles negócios. E ele mesmo já descaracterizou e já falou que talvez os empresários ‘vocês que vão se prejudicar muito com Lula’”.

Tem gente dessa turma que foi pedir a Bolsonaro para virar o jogo, segundo Cid, que é investigada até hoje como golpista. Todos estão impunes.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/