Bolsonaro e a canalhice: por que capitão foge do compromisso para combater fake news? Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 9 de outubro de 2018 às 9:44
Jair Bolsonaro no Jornal Nacional. Foto: Reprodução/Globo

Uma demonstração do tom que Jair Bolsonaro pretende dar à sua campanha foi o post no Twitter no fim da tarde de ontem. Foi uma resposta à proposta de Fernando Haddad de assinarem uma carta de compromisso contra mentiras na Internet:

“O pau mandado de corrupto me propôs assinar ‘carta de compromisso contra mentiras na internet’. O mesmo que está inventando que vou aumentar imposto de renda pra pobre. É um canalha! Desde o início propomos isenção a quem ganha até R$ 5.000. O PT quer roubar até essa proposta”, escreveu.

A propaganda a que Bolsonaro se refere não é da campanha de Haddad, mas circula pela internet. Faz referência à proposta de criar alíquota única de 20% de imposto de renda para pessoas físicas e jurídicas.

Quem fez  a defesa desta alíquota única, que beneficia os de maior renda, que hoje pagam 27,5% de IR, foi seu consultor econômico, Paulo Gudes, ao mesmo tempo em que anunciou a recriação da CPMF para financiar a Previdência.

Com a repercussão negativa do anúncio, feito em uma palestra para público restrito, promovida pela GPS Investimentos, gestora especialista em grandes fortunas, Bolsonaro determinou que Guedes não mais falasse em público.

Desde então, Gudes cancelou palestras e tem se mantido em completo silêncio.

A agressividade de Bolsonaro diante da proposta de Haddad — essa proposta foi feita na rápida entrevista que deu em Curitiba –, no início da tarde de ontem, é mais uma demonstração de que o capitão da reserva não tem nenhum compromisso com a verdade factual.

Horas depois, ao dar entrevista no Jornal Nacional, Bolsonaro reclamou que perdeu votos no primeiro turno em razão de fake news.

Ora, se fosse verdadeira essa preocupação, nada mais civilizado do que aceitar a proposta de Haddad ou ir além.

O problema é que Bolsonaro cresce em meio à confusão. Onde falta luz, tem boato, meia-verdade, ali é que ele tenta se dar bem, como na manipulação que faz da farsa do kit gay.

Dizem que, nisso, ele tem um ponto de convergência com Donald Trump, nos Estados Unidos, que fez campanha em 2016 apoiado em fake news e classificando de fake news toda informação publicada que lhe é era desfavorável.

A diferença é o eleitor.

Lá, os mais escolarizados, em geral, rejeitavam sua candidatura justamente pela impossibilidade de aceitar argumentos contraditórios, muitas vezes desprovido de qualquer fundamento.

No Brasil, é justamente aqueles que têm mais anos de escola é que dão maior vantagem eleitoral a Bolsonaro.

Talvez isso explique muito da dificuldade que o Brasil tem para alcançar outros patamares de desenvolvimento.

Os que deveriam ser a vanguarda do progresso se comportam como âncoras do atraso.