Bolsonaro é a cobra que Míriam Leitão viu em sua tortura e que ela não combateu porque estava obcecada com o PT

Atualizado em 20 de julho de 2019 às 14:21
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Em seu blog, Míriam Leitão lamentou o discurso de Jair Bolsonaro na votação do impeachment.

“A democracia tem mesmo que conviver com quem a ameaça, como o deputado Jair Bolsonaro? O que ele defende e proclama fere cláusulas pétreas”, escreveu.

“Ele usa a democracia para conspirar contra ela abertamente e sob a cobertura de um mandato. Ele exaltou em seu voto a tortura, que é um crime hediondo, e fez, inclusive, o elogio à figura do mais emblemático dos torturadores do regime militar, Carlos Alberto Brilhante Ulstra”.

“A democracia brasileira precisa ser defendida pelos pares do deputado Jair Bolsonaro. O voto dele é apologia de dois crimes, fere duplamente a Constituição. Por que não sofre um processo de cassação pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados?”

Míriam é protagonista de uma história dramática. Em 1972, grávida, foi presa pela repressão e levada ao quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, em Vitória, no Espírito Santo. Foi trancada nua em um cômodo. Atiraram-lhe uma cobra.

Ela mesma contou tudo num artigo (refutado na Veja pelo ex-colunista, ex-blogueiro e ex-telionatário limítrofe Rodrigo Constantino, obrigado em seguida a pedir desculpas).

Bolsonaro é asqueroso e um risco ao regime democrático que, paradoxalmente, lhe permite exercer seus crimes. Cultivado no caldo de cultura de ódio e na criminalização da política, hoje tem 8% de intenções de voto, segundo o Datafolha, e a preferência dos mais ricos.

Míriam tem plena razão em denunciá-lo — mas ela é cúmplice da criação desse monstro.

O que Míriam, ou seus colegas na Globo, fizeram para brecar, ou no mínimo explicar, o fenômeno Jair Bolsonaro? Quanto de seu tempo dedicado a demonizar o governo, “o lulopetismo”, a economia trágica sob Dilma, o fim do mundo foi dedicado a combater Bolsonaro? 1%? 5%?

O silêncio de Míriam é terrível nesse caso. Bolsonaro vem falando excrescências e atentando contra o estado de direito há muito tempo. Foi o deputado mais votado do Rio de Janeiro. Foi o único político recebido com amor e carinho na manifestação pró golpe do dia 13.

É, sim, uma ameaça real.

Enquanto isso, Míriam se debruçava de maneira monomaníaca sobre os fracassos de Dilma Roussef. Onde um escrutínio decente sobre o patrimônio de Bolsonaro, como é feito com os petistas? Um sujeito que se vende como reserva moral homenageia Eduardo Cunha. Faz sentido?

Míriam acordou agora para esse perigo?

É tarde. Jair Bolsonaro é parte intrínseca do golpe que vem sendo gerado desde outubro de 2014. Míriam Leitão e amigos preferiram centrar suas baterias no PT, na esquerda, no bolivarianismo, no peso do estado etc etc.

Estamos agora lidando com um eventual governo Temer-Cunha e com um deputado que considera normal fazer um tributo público a um sujeito que torturou e matou. Mais do que isso: ovacionado nas ruas durante seu voto abjeto.

A cobra que Míriam Leitão encontrou em sua cela continua viva e ela não viu.