“Bolsonaro e Alvim, deixem a Cruz Missioneira fora do seu projeto nazista”, diz mestre em patrimônio cultural

Atualizado em 1 de maio de 2020 às 8:51
Roberto Alvim. Foto: Reprodução/Twitter

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POR RICARDO DA SILVA MAYER

Alô Bolsonaro! Alô Roberto Alvim! Deixem a Cruz Missioneira fora do seu projeto nazista.

O motivo da adoção da cruz hoje conhecida como Cruz Missioneira nas reduções jesuítico-guaranis nos séculos XVII e XVIII é controverso. O projeto de catequese e consequente aculturação dos indígenas pelos jesuítas também pode ser muito debatido.

Porém, para a época, era um projeto humanista e provas disso são o grau que atingiu na educação formal dos indígenas e o esplendor da arquitetura, da escultura e da música produzidas nas reduções.

Atualmente a Cruz Missioneira é parte do patrimônio cultural do Brasil, do Rio Grande do Sul e especialmente da região das Missões que guarda remanescentes da experiência jesuítico-guarani, uma região que se tornou ainda mais multiétnica em função da imigração europeia do século XIX, quando recebeu alemães, italianos, poloneses entre outros.

O exemplar mais conhecido integra o conjunto das ruínas de São Miguel, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Mas símbolos mudam de significado ao longo do tempo. A Cruz Missioneira hoje simboliza também a resistência cultural, diplomática e militar dos indígenas contra as coroas portuguesa e espanhola que negociavam entre si o território à revelia de seus habitantes.

Enfim, este símbolo admite várias interpretações e apropriações: é verdadeiramente cristão, é humanista, é indígena, é multiétnico, é de resistência. Choca que venha a compor o cenário do anúncio de um projeto que avilta a diversidade cultural brasileira, que prenuncia o aprofundamento das perseguições, dos boicotes e da censura.

Foto minha.