Bolsonaro é “assunto superado” em negociações com Trump, diz governo Lula

Atualizado em 30 de outubro de 2025 às 13:01
Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Lula. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governo brasileiro avalia que Jair Bolsonaro é um “assunto superado” nas relações com os Estados Unidos e que as negociações comerciais com o governo Donald Trump seguirão sem vínculo com a situação judicial do ex-presidente. Essa foi a principal conclusão da delegação que acompanhou o presidente Lula na reunião com seu homólogo americano, segundo a coluna de Jamil Chade no UOL.

Integrantes do grupo afirmam que o encontro entre os dois líderes e as reuniões ministeriais seguintes mostraram que Washington não pretende mais atrelar a redução das tarifas impostas ao Brasil à revisão da condenação de Bolsonaro. “A pauta política doméstica brasileira foi retirada da mesa”, relatou uma fonte envolvida nas conversas.

Em junho, Trump havia enviado uma carta a Lula classificando a condenação de Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e uma “vergonha internacional”. O republicano também anunciou tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, além de suspender vistos e aplicar sanções a autoridades. “Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente!”, escreveu o americano.

Na reunião da Malásia, Lula defendeu os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou a Trump que as sanções eram “injustas”, pois os juízes “fizeram o que tinham de fazer”. Após o encontro, técnicos e ministros de ambos os países se reuniram novamente e, dessa vez, a questão Bolsonaro não foi mencionada. O foco passou a ser exclusivamente comercial.

Uma nova rodada de negociações foi marcada para a próxima semana em Washington. Os EUA deverão apresentar suas condições para reduzir as tarifas, e o governo Lula já prevê um processo “difícil”, no qual Trump tentará maximizar ganhos políticos e econômicos. O Itamaraty trabalha com a expectativa de que eventuais impasses voltem a ser decididos diretamente pelos presidentes.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e Trump. Foto: Alan Santos/PR

Entre as exigências preliminares apresentadas pela Casa Branca estão a redução da tarifa de 18% sobre o etanol americano, considerada estratégica para os produtores de milho do país. Também está na mesa um pedido de acesso dos EUA às reservas brasileiras de terras raras, em linha com acordos firmados recentemente entre Washington e a Austrália para reduzir a dependência chinesa nesses minerais.

Outro ponto de interesse é o compromisso de investimentos de empresas brasileiras nos EUA, estimados em até US$ 7 bilhões (R$ 37,6 bilhões) caso as tarifas sejam reduzidas. Atualmente, companhias do Brasil sustentam cerca de 110 mil empregos em 23 estados americanos.

Trump também quer garantias de acesso ao mercado de compras governamentais brasileiro, visto como essencial diante da possibilidade de um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Para o governo Lula, o novo ciclo de negociações marca um “recomeço pragmático” na relação bilateral, centrado em comércio, energia e inovação. Assessores do Planalto avaliam que, ao encerrar o capítulo Bolsonaro, o diálogo com os EUA ganha terreno diplomático mais sólido, afastando a interferência política e abrindo espaço para um acordo econômico de longo prazo.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.