Bolsonaro e empresários ‘parecem não se importar’ com 341 mil mortos, diz Lula ao DCM

Atualizado em 8 de abril de 2021 às 18:40
Lula em entrevista ao DCM. Foto: Ricardo Stuckert

Publicado originalmente no site Rede Brasil Atual (RBA) 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como “puxa-sacos” os empresários que jantaram com Jair Bolsonaro na noite desta quarta-feira (7). No banquete, Bolsonaro atacou mais uma vez as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos para conter a pandemia. E voltou a defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada. Apesar dos seguidos recordes de mortes registrados na última semana, evitaram críticas ao presidente. Em vez disso, ele foi aplaudido.

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“341 mil mortos é um número absurdo. Poucas guerras no mundo mataram tanta gente. E esse deveria ter sido o assunto do jantar que o Bolsonaro teve ontem com empresários. Mas eles parecem não se importar”, disse Lula em entrevista ao vivo ao Diário do Centro do Mundo, nesta quinta (8).

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Ele acrescentou que para esses empresários, tanto faz “se morrer uma ou mil pessoas”. E lamentou que, desse encontro, “não saiu uma discussão madura de um governo que deveria estar preocupado com o povo brasileiro”. Também afirmou que o empresário Washington Cinel, dono da companhia de segurança Gocil e anfitrião do banquete, “deve ser o maior comprador de armas dos decretos do Bolsonaro”.

O ex-presidente atacou a resistência ao seu nome em determinadas parcelas do empresariado. “Vejo no jornal que o mercado está preocupado com a volta do Lula. O mercado especulador tem que ficar mesmo. Porque vamos cuidar de outro mercado. Aquele do estômago, da saúde, educação, inclusão social. Quanto melhor estiver a sociedade, melhor vai estar o mercado”, declarou.

Desesperança e incerteza

Lula afirmou que o governo não transmite nenhum “sinal de esperança”. “Bolsonaro continua falando bobagem. Não tem o menor respeito, a menor solidariedade e estimula as pessoas ao redor dele a não terem”, criticou o ex-presidente.

O petista destacou que, atualmente, o brasileiro acorda e dorme em meio a incertezas. “Ontem vi uma matéria mostrando as pessoas cozinhando com lenha porque não conseguem comprar gás. O Brasil não merece isso. Não merece andar pra trás”, ressaltou.

“Os jovens hoje não tem perspectiva. E uma parte da sociedade está normalizando isso. Nós temos que saber que a única luta que a gente perde é a que a gente não participa. Temos que fazer um chamado para que as pessoas acreditem que é possível. Nós já provamos que é”, reagiu.

Vacina para todos

Assim como na carta aberta dirigida à comunidade internacional divulgada ontem ocasião do Dia Mundial da Saúde, Lula voltou a afirmar a necessidade de um esforço global coordenado para garantir o acesso à vacinação a toda a população do planeta. “É urgente que se crie uma governança global para distribuir vacina aos países pobres”, afirmou.

Lula criticou ainda bolsonaristas que, assim como o próprio presidente, tentam desacreditar a eficácia dos imunizantes. “Tem gente que é contra vacina no Brasil, mas vai para Miami se vacinar… Vocês sabem disso”, ironizou.

Eleições 2022

Perguntado se abriria mão da cabeça de chapa para apoiar outro candidato, como sugeriu Ciro Gomes, Lula afirmou que não é hora de antecipar a discussão sobre a sucessão de Bolsonaro. “Quem tiver o mínimo de humanismo, sabe que agora não é hora de discutir eleições. Agora é hora de discutir a vacina, auxílio emergencial, ajuda às pequenas e médias empresas e investimento público”, rebateu.

Ainda assim, o ex-presidente contestou a proposta do seu partido abrir mão da candidatura no ano que vem. “Qualquer um pode ser maior que o PT. Quer que eu passe o bastão, corra mais do que eu. Mas tudo isso já faz parte do humor da política brasileira.”