Bolsonaro e o faz de conta que governa: na situação em que está, como político não fala, não ouve, não vê. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 8 de fevereiro de 2019 às 11:03
Bolsonaro no hospital

O que aconteceria em uma empresa cujo CEO estivesse internado há mais dez dias, sem previsão de alta e impedido pelos médicos de conversar com os seus executivos mais próximos?

A empresa delegaria as funções desse CEO para outros executivos, para que a empresa continuasse funcionando sem grandes prejuízos.

Foi isso o que aconteceu, por exemplo, com o Carrefour quando seu presidente mundial, Georges Plassat, esteve internado, em 2015.

Ainda assim, as ações da companhia caíram por conta das incertezas que uma internação provoca. No caso da administração de um país, muito mais complexa, as incertezas também precisam ser minimizadas, o que ocorreria com a transmissão da presidência para o vice, enquanto o titular se recupera.

Então, por que isso não é feito?

Há indicações de que a ala bolsonarista do governo que acabou de assumir não confia no vice-presidente.

Por isso, incentiva o jogo de cena.

O Brasil está virtualmente sem presidente, já que Jair Bolsonaro, por recomendação dos médicos, deve falar pouco ou não falar, razão pela qual os ministros não vão até o Albert Einstein, em São Paulo.

Se falasse normalmente, Bolsonaro já não teria gravado um depoimento em vídeo para seus seguidores? Sempre fez assim.

Nesse situação de incerteza, se faz de conta que governa, com um “gabinete” improvisado no hospital.

E de lá (do hospital, não do gabinete) veio notícia de que ele está com pneumonia e agora não há mais previsão de alta.

Procedimento para retirada de bolsa de colostomia não exige, em geral, tanto tempo de internação. Sei de um caso em que o paciente passou apenas três dias no hospital.

Por que, com Bolsonaro, está sendo mais complicado, embora os médicos do Einstein digam que não há complicação?

Um experiente policial com quem conversei, antes da internação de Bolsonaro, me disse que o problema de Bolsonaro não era a bolsa de colostomia, mas a facada.

“Meu pai também era policial e levou tiro na região do abdômen, mais ou menos no local onde Bolsonaro levou a facada. Ele nunca mais se recuperou e, alguns anos depois, morreu”, disse.

Esse policial com quem conversei trabalhou muito tempo no Departamento de Homicídios de São Paulo, e investigou outros casos de facada — que resultaram em homicídio.

“É uma maneira muito cruel de se tentar matar alguém e, quando não mata, deixa sequelas graves”, afirmou.

Bolsonaro esconde a fragilidade de seu estado de saúde com mensagens no Twitter que não correspondem aos fatos.

Por exemplo, ontem, depois que os médicos revelaram a pneumonia, ele escreveu, num texto de apresentação do vídeo com o boletim lido por seu porta-voz:

“Nosso estado de saúde comentado pelo porta-voz da Presidência da República, General Rêgo Barros. Cuidado com o sensacionalismo. Estamos muito tranquilos, bem e seguimos firmes”, disse.

Ele pode estar firme e tranquilo, mas é natural que, com seu gabinete improvisado no Albert Einstein, a internação gere dúvidas e inquietações.