Bolsonaro e Trump gostam de humilhar generais. Por Moisés Mendes

Atualizado em 1 de outubro de 2025 às 9:44
Jair Bolsonaro, então presidente, durante cerimônia militar em 2019. Foto: Fernando Souza/AFP

Bolsonaro humilhou o alto comando do Exército, quando desafiou seus chefes a expedirem uma ordem para que ele fosse expulso das Forças Armadas, depois de condenação pela Justiça Militar de primeira instância.

Não houve ordem porque não houve condenação no Superior Tribunal Militar. Os militares se acovardaram, promoveram o tenente a capitão e o encostaram num canto. Condená-lo tinha um alto custo político. Eles temiam o tenente Bolsonaro. Era melhor mandá-lo embora.

Bolsonaro foi transformado em militar reformado, porque a Justiça Militar pensou bem e achou melhor não condená-lo por ter planejado, em 1987, atentados a bomba em quartéis.

Ele negou o plano, porque nenhum terrorista assume o que iria fazer e não deu certo, mas a revista Veja provou que ele era um dos autores da ideia.

Não importa repetir aqui que Bolsonaro não chegou a ser preso por causa desse plano. O que importa é reafirmar que o plano existiu e que ele, mesmo que negue, era um dos seus autores.

Foi assim que Bolsonaro humilhou os generais ao mandar o aviso: me condenem se tiverem coragem. O STM se encolheu.

E Bolsonaro voltou a humilhá-los ao atrair parte dos que estavam no seu entorno, dentro do governo, para o golpe fracassado contra Lula.

Atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 – Foto: Reprodução

Bolsonaro humilhou todos os que não aderiram ao plano. O chefe da organização criminosa pisoteou na instituição Forças Armadas.

Trump também odeia militares, que não o apoiaram quando ele determinou que uma turba invadisse o Capitólio em janeiro de 2021.

Odeia tanto que determinou ao seu secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que fizesse o que fez hoje numa reunião com 800 oficiais de alta patente, convocados para que ficassem sabendo que a ideologia do trumpismo deve ser cultuada entre eles.

Trump ordenou que o fascista que o auxilia dissesse que os generais são gordos demais para enfrentar uma guerra. Não são incompetentes, são gordos:

“É completamente inaceitável ver generais e almirantes gordos nos corredores do Pentágono. A era da aparência pouco profissional acabou. Chega de barbas”.

Barbudos, mulheres, trans e todos os que são considerados ‘desleixados’ e estranhos ao meio militar devem pedir pra sair.

O próprio Trump disse no encontro:

“Se você não gosta do que estou dizendo, pode sair da sala. É claro, lá se vai sua patente, lá se vai seu futuro. Mérito, tudo se baseia no mérito”.

Bolsonaro e Trump desqualificaram as Forças Armadas. O primeiro pelo menos conseguiu chamar para o golpe um grupo de medíocres que nem golpe sabiam aplicar.

Mas Trump poderá, mais adiante, pagar o preço de ter humilhado uma das instituições que os americanos mais respeitam, por terem a imagem conectada a guerras e à defesa da pátria e da democracia, mesmo que sempre como farsa.

Os generais magros do Brasil já se vingaram de Bolsonaro, e alguns o expuseram como golpista. Os generais gordos dos Estados Unidos podem estar preparando, como vingança, uma guerra interna que os americanos nunca viram.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/