O escritor peruano Mario Vargas Llosa, um dos maiores defensores do liberalismo na América Latina, concedeu entrevista ao jornal Folha de S.Paulo e nela fez pesadas críticas tanto a Jair Bolsonaro (PL) quanto a Lula (PT). Para o vencedor do Nobel de Literatura em 2010, o atual mandatário brasileiro “é um palhaço”, mas Lula “cumpriu uma função muito negativa no Peru”.
Leia trechos:
Nas eleições brasileiras de 2018, o senhor disse que optar entre Bolsonaro e Haddad era como escolher entre o câncer terminal e a Aids. Recentemente, disse que prefere Bolsonaro a Lula. Bolsonaro cresceu em seu conceito nesses quatro anos?
Não, digamos que não tenho muita simpatia por Bolsonaro. Com sua posição sobre as vacinas, ele provocou uma verdadeira catástrofe no Brasil. Além disso, tem uma certa vocação pela palhaçada, não?
Mas Lula… No Peru, temos quatro presidentes com processos na Justiça [em decorrência da Lava Jato]. Em grande parte, todos eles foram vítimas de Lula, pois ele utilizava, digamos, a Presidência para corromper os governantes latino-americanos. No Peru, causou estragos.
Então, não gostaria de estar na situação de ter que escolher entre Lula e Bolsonaro. Mas realmente jamais votaria em Lula. Ele foi um homem que corrompeu profundamente. Podemos dizer que os dirigentes peruanos se deixaram corromper, mas Lula cumpriu uma função muito negativa no Peru [A delação da Odebrecht, que motivou processos judiciais no Peru, falava em pagamento de propina no país vizinho a pedido do PT, em troca de benefícios em licitações e superfaturamento de projeto; Lula foi citado na delação, mas nunca acusado formalmente por esses casos]
O senhor certamente sabe que os processos contra Lula na Lava Jato foram anulados.
Sim, mas foram por questões técnicas, e alguns juízes também têm seus preferidos na política. Torço para que não elejam de novo Lula, pois ele está muito associado à corrupção.
Como a disputa se concentra em dois candidatos, sobra então Bolsonaro, que representa muitas das ideias que o senhor sempre combateu em seus livros, como o militarismo exacerbado e o autoritarismo. O senhor já reconheceu que, para um liberal, é muito difícil aceitar Bolsonaro.
Sim, muito difícil. Bolsonaro é um palhaço no fundo. É uma pessoa que tem uma vocação para a palhaçada, não é muito sério. A escolha é muito difícil. Ficaria feliz em não ter que opinar nesta eleição entre Lula e Bolsonaro. (…)