Bolsonaro implode elites econômico-financeiras. Por Helena Chagas

Atualizado em 30 de agosto de 2021 às 19:42
Bolsonaro e Paulo Skaf – (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Alan Santos/PR | Reprodução)

Nunca antes neste país um manifesto moderado de três parágrafos provocou tanta confusão entre as elites do capital nacional. Patrocinado pelo até ontem insuspeito bolsonarista Paulo Skaf, presidente da Fiesp, o documento foi usado pelo Planalto para confrontar a poderosa Febraban, usando os bancos oficiais que um dia o governo Bolsonaro jurou que seriam autônomos.

O resultado da lambança deixou todos os personagens em má situação, e a decisão de adiar a divulgação do manifesto, anunciada hoje pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, é mais ou menos como tirar o sofá da sala.

Só não vê quem não quer que, junto com boa parte do PIB, o mercado desembarcou do governo Bolsonaro. A assinatura da sempre comportada Febraban no documento – que não ia sequer tocar no nome do presidente e ia jogar na conta dos três poderes a crise institucional – não chega a ser uma surpresa. Expoentes importantes do setor financeiro, como Pedro Moreira Salles, Roberto Setubal e José Olympio Pereira já haviam assinado como pessoa física, há semanas, manifesto muito mais forte com críticas ao governo e às investidas antidemocráticas de Jair Bolsonaro.

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Racha

A novidade agora é que o presidente da Caixa, com apoio do do Banco do Brasil e do Planalto, resolveu rachar a Febraban com a ameaça de sair da entidade, numa ruptura inédita. Aos olhos do mercado, porém, a Federação dos Bancos perde menos do que o governo. Com esse gesto, ficou claro para os últimos recalcitrantes que ainda acreditavam que o liberalismo desse governo é de araque. E que Bolsonaro está e continuará interferindo politicamente na Caixa e no Banco do Brasil, sim.

Também a Fiesp de Paulo Skaf ficou numa saia justa. Há versões diversas sobre as intenções de Paulo Skaf com o documento, que vão da contrariedade por não ser o candidato de Bolsonaro a governador de SP em 2022 à possibilidade de ter feito o documento em tom meio anódino para restabelecer uma ponte do empresariado com o Planalto.

O fato concreto, seja qual for a narrativa, é que Skaf perdeu o controle do movimento e ficou com o mico na mão ao adiar a divulgação da carta. Muita gente que assinou não está gostando nada disso – e é possível que, nas próximas horas, saia um manifesto do B. O bolsonarismo conseguiu implodir até as elites econômico-financeiras do país.

(Texto originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA)