Bolsonaro elogia seu novo porta voz na Globo: Alexandre Garcia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2018 às 13:15
Alexandre Garcia: a mãe dele também gosta do Bolsonaro

Em abril, áudios vazados de Chico Pinheiro criticando Sergio Moro e desejando “paz e sabedoria” a Lula levaram o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, a enviar à equipe um email sobre o uso das redes sociais.

“O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico”, escreveu.

“A Globo é apartidária, independente, isenta e correta (sic). Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça.”

Pau que bate em Chico não bate em, por exemplo, Alexandre Garcia, que exerce no Facebook o legítimo direito de puxar o saco de Jair Bolsonaro.

Seu mais recente artigo mereceu elogio sincero do personagem: “Grato pela menção e reflexão, @alexandregarcia! Um forte abraço!”, escreveu no Twitter.

A peça de Garcia é constrangedoramente sabuja, mas não exatamente surpreendente vinda de um ex-porta voz de João Figueiredo que nunca deixou de gostar de homens de uniforme.

Jair, em resumo, é o messias que veio para nos salvar para sempre do comunismo. Faltou falar do “marxismo cultural”, mas isso não demora.

Alguns trechos:

Em dois meses, minha mãe completa 100 anos de vida e diz que nunca viu nada igual ao que está testemunhando hoje. Ela passou pela ditadura Vargas, pelas tentativas comunistas de tomada do poder, a começar em novembro de 1935, depois por tantos governos diferentes e tantos planos de salvação nacional, mas nunca viu uma reação como agora, contra o estado de coisas em que enterraram o país. (…)

Eu mesmo, em meus quase 80 anos de Brasil, nunca vi nada igual. Eu diria que se trata de uma revolução de ideias, tal a força do que surgiu do cansaço de sermos enganados.

Mencionei a primeira tentativa comunista de tomada do poder, há 83 anos. Naquele 1935, houve reação pelas armas. Nas outras tentativas, no início dos anos 60, a reação veio das ruas, que atraiu as armas dos quartéis. A última, veio pelo voto, na mesma linguagem desarmada, com que começou a sutil tentativa tucana, para desaguar nos anos petistas, já com a tomada das escolas, dos meios de informação, da cultura – com aquela conversa que todos conhecemos. (…)

Reagimos no voto, 57 milhões, mais alguns milhões que tão descrentes estavam que nem sequer foram votar. O candidato havia sido esfaqueado para morrer, nem fez campanha, não tinha horário na TV, nem dinheiro para marqueteiro. Mas ficou à frente do outro em 10 milhões de votos.

Ainda não se recuperou da facada, a nova intentona; precisa de mais uma cirurgia delicada, mas representou a reação da maioria que não quer aquelas ideias que fracassaram no mundo inteiro, que mataram milhões para se impor e ainda assim não se impuseram.

O que minha mãe nunca viu é que antes mesmo de o vitorioso tomar posse, as ideias vencedoras da eleição já se impõem. (…)

O exemplo mais claro desse movimento prévio ao novo governo é a retirada cubana, no rompimento unilateral de um acordo fajuto, de seus médicos, alugados como escravos ao Brasil. Cuba “passou recibo” na malandragem e tratou de retirá-los antes que assumisse o novo governo, na prática confessando uma imoralidade que vai precisar ser investigada no Brasil, para apontar as responsabilidades, tal como ainda precisam ser esclarecidos créditos do BNDES a ditaduras, doação de instalações da Petrobras à Bolívia, compra de refinaria enferrujada no Texas, e tantas outras falcatruas contra as quais a maioria dos brasileiros votou em outubro.

A genitora de Garcia é mais ou menos como a de Norman Bates, aparentemente, dando conselhos preciosos ao menino.

Na Globo, quando é para fazer proselitismo do lado certo, não tem problema. Todos os bichos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.