Bolsonaro entra em parafuso no seu próprio terreno. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 16 de outubro de 2022 às 12:46
Bolsonaro em live

É possível que estejamos em meio a uma virada qualitativa na disputa presidencial. Não uma virada no balanço de intenções de votos entre os dois candidatos, mas em algo profundo que abalou a lógica da campanha da extrema-direita: ela entrou na defensiva em seu próprio campo.

O ponto de virada foi o episódio da pedofilia.

Em bom português, Bolsonaro vinha até sábado conseguindo impor a agenda do enfrentamento do segundo turno: a pauta genericamente chamada “de costumes”. Ao invés dos temas principais girarem em torno da fome, da fila do osso, do emprego e dos temas sociais – nos quais Lula poderia assumir a ofensiva -, entrou em cena, com muita força, o lado escuro da força. Os assuntos passaram a ser maçonaria, satanismo, aborto, preconceitos sexuais, cachaça e corrupção. É terreno movediço para o PT.

Nesse ponto, a comunicação da campanha oposicionista – em geral lerda, burocrática e pouco criativa – saiu de cena e entraram dois tufões, Felipe Neto e André Janones. A dinâmica geral foi alardeada por este último em entrevista ao Valor (10.10.2020): “Não tem como você subir num ringue para lutar e dizer ‘Eu não vou dar golpe abaixo da linha da cintura porque a regra não permite’, se o seu adversário está te socando abaixo da linha da cintura”.

Ambos pegaram o boçal na curva em pelo menos quatro episódios: o caso do canibalismo, as intromissões no Círio de Nazaré e em Aparecida e o episódio da pedofilia. A ofensiva de Neto e Janones não apenas furou a bolha progressista, mas foi além: obrigou o genocida a vir à público, em live à meia noite de sábado, para se defender.

Bater num oponente em seu próprio terreno é algo rarísimo nos enfrentamentos políticos e demonstra grande capacidade tática. Em geral, desestabiliza o outro lado e desmonta toda a sua lógica de combate. Mutatis mutandis é a movimentação realizada pela China em seu enfrentamento com os EUA. Pequim conseguiu algo que o antigo campo socialista jamais fez: colocar Washington em situação de desvantagem no terreno da economia de mercado, da OMC e da competição no comércio global. Com um Estado potente e um Partido determinado, tirou de cena a ideia de se “exportar a revolução” e entrou a de bater o inimigo em seu próprio terreno.

Olhando para o desânimo que tomou conta de parte dos ativistas do campo democrático logo após os resultados do primeiro turno, é bem possível que a baixada de bola tenha resultado não tanto do aumento de votos em Bolsonaro nos últimos dias daquela fase e mais pelo fato de a campanha Lula ter perdido a iniciativa, ou seja, tenha deixado de pautar a luta. É essa a virada de agora que, repetindo, pode não resultar em mudança significativa no placar das pesquisas, mas paralisa o adversário, que se sente devedor de explicações para seus próprios apoiadores.

É bastante provável que o fascista venha irado para o debate televisivo deste domingo, perdendo as estribeiras e tentando tirar Lula do sério. Por ter feito a live no meio da madrugada, tudo indica que o sono do indigitado tenha sido péssimo.

Lula agora entra em vantagem diante das câmaras. Não deverá perder a iniciativa.

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