Bolsonaro está dependurado nos generais. Por Moisés Mendes

Atualizado em 23 de março de 2021 às 10:01

Publicado no Blog do Moisés Mendes

Jair Bolsonaro em evento militar de 2019

Corre por todo lado, não mais em murmúrios, mas em voz alta, um aviso vindo de Brasília: um vento meio forte, nem precisa ser uma ventania, derruba Bolsonaro ou prepara a derrubada.

Se metade dos jovens que saem de casa para as baladas fossem às ruas por meia hora, nas capitais, só para dar uns gritos em direção a Brasília, Bolsonaro ficaria abalado.

Igor Gielow, o jornalista da Folha com mais fontes de peso da direita, escreveu que Bolsonaro ainda tem o Centrão (talvez porque a turma ainda não saqueou tudo o que quer e pode), mas há um detalhe.

Esse é o detalhe, dito por um deputado do Centrão: se 10 pessoas fossem às ruas contra Bolsonaro, o clima para um processo de impeachment no Congresso estaria dado.

O Congresso só vai agir quando Bolsonaro estiver quase maduro para cair. Cobram ingenuamente que Rodrigo Maia sentou em cima de mais de 50 pedidos de impeachment.

Queriam que, sem clima, sem gente nas ruas e sem apoio da grande imprensa, do mercado e dos empresários, Maia pagasse o mico de aceitar um dos pedidos? Para que o pedido fosse rejeitado e Bolsonaro fosse fortalecido e passasse a blefar ainda mais com o golpe?

Michel Temer, o jaburu da mala, já admitiu que pensou em renunciar, em 2017, depois das denúncias do grampo de Joesley Batista. A classe média foi para as ruas e assustou o jaburu. Mas foi só por um dia. Um só.

O jaburu pensou que as manifestações seriam diárias e se assustou. Ninguém mais foi às ruas, com raríssimas exceções de grupos de estudantes e das manifestações que pediam a identificação dos assassinos de Marielle.

Um vento hoje, um ventinho, deixaria Bolsonaro mal. Ninguém imagina um ventão, como o que ventou ontem em La Paz, onde milhares de bolivianos saíram às ruas para defender o governo e a Justiça, para que se cumpram as ordens de prisão contra os golpistas de 2019.

Aqui, uma brisa já mexeria com as estruturas precárias da direita. Mas não há como contar com nada nas ruas. Nem dá para estimular aglomerações, sob o pretexto de que vale a pena ir às ruas para derrubar Bolsonaro. O Brasil não foi às ruas nem antes da pandemia.

O certo é que Bolsonaro está em desespero, ou não ficaria ameaçando com golpe e estado de sítio. O sujeito já perdeu o apoio de empresários, banqueiros e economistas tucanos, o que pode indicar que Paulo Guedes está sendo rifado pelo mercado.

Coisas podem acontecer nos próximos dias, incluindo até um movimento em falso de Bolsonaro ou dos filhos dele. Bolsonaro está dependurado nos generais.

A volta dos blefes de golpe é a prova de que os militares são sua última trincheira. Falta saber se eles topam continuar protegendo o sujeito, mesmo que não tenham preparado um plano de retirada.

Sair do governo sem cair na sarjeta talvez não seja um problema só de Eduardo Pazuello.