Bolsonaro exalta as milícias que querem matar Freixo, a quem chama de “covarde”, desde 2003. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de dezembro de 2018 às 15:30
Freixo

O ódio organizado a Marcelo Freixo vem sendo cevado há muito tempo e tem em Jair Bolsonaro um de seus maiores propagadores. 

A Polícia Civil interceptou planos de milicianos que iriam tentar executá-lo no próximo sábado (15) num evento com professores da rede particular no bairro de Campo Grande.

O PM e os dois comerciantes citados no relatório são ligados a milicianos investigados pelo assassinato de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.

Freixo, acertadamente, lembrou que a ameaça não é a ele, “mas à democracia”.

Parte do estado é comandada por esses criminosos num modelo de negócio altamente lucrativo. Controlam comunidades através de extorsão, tortura, homicídios e tráfico de drogas.

Parêntese: a Taquara, na região de Jacarepaguá, onde o ex-assessor de Flávio Bolsonaro mora, é dominado por milícias. Fecha parêntese.

Bolsonaro é um herói para eles.

Em 2003, fez no Parlamento a elegia de um grupo de exterminadores que atuava na Bahia, com um convite.

“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo”, falou.

“Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”, afirmou.

O que significa “todo meu apoio”?

Há dez anos, criticou na Câmara o relatório da CPI da Alerj que apurava a atuação dos grupos paramilitares e as punições requeridas.

Detectou-se cobrança de propina, serviços clandestinos, venda de apoio político etc.

“Existe miliciano que não tem nada a ver com gatonet, com venda de gás. Como ele ganha R$ 850 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade”, declarou o então deputado.

“O Marcelo Freixo tem trânsito livre em qualquer favela do Rio de Janeiro e a sua principal proposta é desarmar o bombeiro militar”.

“Ele inclusive pregou, por ocasião do referendo do desarmamento, o voto sim, ou seja, pela proibição do comércio e da fabricação de armas de fogo no Brasil. Hoje, de forma covarde – porque ele é um covarde –, Marcelo Freixo anda em carro blindado e com meia dúzia de seguranças. Ele tem de dar o exemplo. Se é homem suficiente para pedir o desarmamento, dê o exemplo: não ande em carro blindado e com meia dúzia de seguranças.”

Em entrevista à BBC, defendeu a legalização do que chamou de “defensores da ordem”.

Refere-se ao inimigo pelo apelido idiota de “Frouxo”, algo supostamente engraçado entre repetentes de 15 anos.

Em fevereiro, na encarnação de candidato, Bolsonaro voltou ao tema na Jovem Pan.

“Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, inventou.

As milícias surgiram há cerca de 20 anos a reboque do abandono da população pelos governos.

São herdeiras dos esquadrões da morte da ditadura, contratadas por comerciantes e “caciques” para “limpar” a área da “bandidagem” (lato sensu).

Cresceram e atualmente podem faturar 20 milhões de reais por mês na zona oeste do Rio, seu principal reduto.

Em 2016, candidatos a prefeito e a vereador foram assassinados, incluindo o presidente da Portela, Marcos Falcon.

Em março, foi Marielle. No sábado, podia ser Freixo.

Essa máfia hoje tem um padrinho e ele estará sentado no Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2019.