Bolsonaro faria alguma falta se morresse? Por Moisés Mendes

Atualizado em 8 de julho de 2020 às 8:26
Jair Bolsonaro. Foto: CARL DE SOUZA/AFP

Se Boris Johnson, Bolsonaro e Trump se ausentassem desse mundo, que falta fariam? Os britânicos, os brasileiros e os americanos perderiam alguma coisa?

Sabe-se que só ganhariam muito. A memória de muitos líderes mundiais considerados insubstituíveis foi submetida, logo depois da morte deles, ao constrangimento de que poderiam ser substituídos. Há exemplos históricos.

Se Johnson, Bolsonaro e Trump morressem hoje, não fariam nenhuma falta e ainda deixariam de atrapalhar o mundo já exausto de todos eles. Até porque não são líderes, mas referências caricatas da direita mundial.

Líderes verdadeiros nem sempre fizeram tanta falta. Franklin Delano Roosevelt, um gigante americano, morreu cinco meses antes do final da Segunda Guerra.

Os Estados Unidos se abalaram. Mas Harry Truman o sucedeu e levou os planos bélicos e os acordos com os aliados adiante, até o bombardeio criminoso de Hiroshima e Nagasaki e a partilha da Europa com os soviéticos.

Se nem Roosevelt foi insubstituível, por que um dos três citados seria? Há contra todos eles, entre outros parceiros do mesmo time, uma torcida para que morram logo. De causas naturais, ou de repente, ou de uma síncope misteriosa, de algo sem explicação.

A democracia parece não conseguir mais dar conta de nada, depois de ter seus valores sequestrados pela direita e pela extrema direita. Uma eleição não resolve, porque eles descobriram como vencer todas as eleições. É dureza, mas vê-los mortos pode ser a única saída.

O desejo de morte é abafado nas esquerdas no esforço para simular bons modos. Mas torcem cada vez mais, silenciosamente ou não, para que o mundo se livre de fascistas declarados ou dissimulados.

É o que acontece agora com Bolsonaro infectado. Não só os anônimos das redes sociais, mas inclusive conhecidos jornalistas golpistas, que ajudaram a criar o sujeito, estão torcendo pela morte de Bolsonaro.

O professor e jornalista Tau Golin, um dos mais respeitados historiadores gaúchos, escreveu no seu perfil no Facebook:

“Não sou hipócrita. Eu torço pelo coronavírus”.

E continuou, referindo-se a Bolsonaro:

“Ele lamenta que a ditadura militar não matou 30 mil brasileiros. Sua política dizima povos indígenas. Sua imobilidade genocida frente à pandemia está contribuindo para a morte de milhares de pessoas, levando a dor e o desespero às famílias. E mais: eu certamente estou na lista daqueles que ele prometeu matar. Portanto, não sou hipócrita. Eu torço pelo coronavírus, ao menos para fazê-lo lembrar, por um bom período, que ele não é imune e que, inclusive, mesmo se achando um mito, messias também pode cumprir pena de entubação por certo período”.

Bolsonaro experimenta o que Johnson já experimentou. Mas Johnson foi hospitalizado e quase morreu. Ressuscitou para dizer que passaria a agir com vigor contra a pandemia que havia subestimado.

Bolsonaro, por enquanto, só faz vídeos com propaganda da hidroxicloroquina. Quem pode imaginar que vá se arrepender do que disse e fez, só porque foi infectado?

Os próximos dias nos dirão o que aconteceu de fato com Bolsonaro e se ele será fortalecido pelo contágio. No vídeo que divulgou, convidando as pessoas a tomarem o remédio milagroso, seu rosto tem a expressão de um adulto infantilizado que se diverte e se alegra por ter sido contagiado.

Bolsonaro produziu o retrato do negacionista extasiado diante da possibilidade de ter infectado dezenas de pessoas, entre as quais empresários, ministros, assessores e até o embaixador dos Estados Unidos.

Estou entre os que ficariam satisfeitos se a cloroquina fizesse o que pelo menos metade do Brasil espera que faça.

Desejo apenas que o remédio adorado pelo bolsonarismo cumpra, com seus efeitos colaterais, o que é hoje sua mais importante missão, em nome da ciência, da humanidade e da História.