Bolsonaro faz drama ao prever sua prisão por golpismo: “O fim da minha vida”

Atualizado em 29 de março de 2025 às 8:38
O ex-presidente Jair Bolsonaro agora é réu por tentativa de golpe. Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou abertamente em entrevista à Folha de S.Paulo sobre a possibilidade de ser preso após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Questionado sobre como encararia uma eventual condenação, o ex-presidente foi dramático: “É o fim da minha vida. Eu já estou com 70 anos”.

Bolsonaro enfrenta cinco acusações que, somadas, podem resultar em mais de 40 anos de prisão. Sobre a perspectiva de cumprir pena, afirmou: “Completamente injusta uma possível prisão. Cadê meu crime? Onde eu quebrei alguma coisa? Cadê a prova de um possível golpe?”, disse, ignorando os áudios, as impressões de minutas golpistas feitas no Palácio do Planalto e os depoimentos de aliados, inclusive a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens.

O ex-presidente insistiu que apenas discutiu “dispositivos constitucionais que não saíram do âmbito de palavras”.

A entrevista revelou a visão pessoal de Bolsonaro sobre seu futuro político e pessoal diante dos processos judiciais. Quando indagado se cogitava seguir o exemplo do filho Eduardo Bolsonaro e buscar asilo político nos Estados Unidos, respondeu de forma enfática: “Zero, zero, zero. Eu acho que eu estou com uma cara boa aqui. Tenho 70 anos, me sinto bem. Eu quero o bem do meu país”.

Sobre o projeto de anistia em discussão no Congresso, Bolsonaro demonstrou reticência em ser incluído: “Quando começou a tramitar, eu falei não quero saber de anistia envolvendo meu nome”. Ele questionou sua associação aos eventos de 8 de janeiro: “Como é que eu podia imaginar que me colocariam no [processo do] 8 de janeiro, se eu estava lá nos Estados Unidos?”.

Bolsonaro chorando por causa própria. Foto: reprodução

Apesar das acusações graves, Bolsonaro manteve sua postura de não arrependimento sobre sua conduta pós-eleitoral: “Não me arrependo [de não ter reconhecido os resultados]. Eu tinha meus questionamentos”. Sobre a possibilidade de ter passado a faixa presidencial a Lula, foi taxativo: “Eu jamais passaria faixa para ele [Lula] também, mesmo que tivesse dúvidas de nada”.

Sobre o arquivamento pela PGR da investigação sobre suposta fraude em seu certificado de vacinação, que se baseava no depoimento de seu ex-ajudante Mauro Cid, Bolsonaro foi enfático: “Eu jamais faria um pedido desse para alguém, me desmoralizaria politicamente, porque sempre fui contra a vacina, que até hoje é experimento”.

O ex-presidente questionou a validade da delação premiada: “Um delator, para seguir a regra, tem que ser espontâneo, falar a verdade e ter prova”.

Quanto às implicações dessa decisão para outros processos, como o das joias, o golpista foi além de ver apenas uma “sinalização”: “Mais que uma sinalização, uma luz vermelha contra o processo”. Ele criticou o que chamou de “investigação em cadeia”: “Porque você não pode investigar o cartão de vacina, olhar do lado ali e ah, apareceu presentes, apareceu estado de sítio, não pode fazer isso aí”.

Ao detalhar as discussões pós-eleição sobre medidas constitucionais extremas, Bolsonaro afirmou: “Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas […] o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção…”.

Sobre a profundidade dessas conversas, explicou: “Reuni duas vezes com os comandantes militares, com umas outras pessoas perdidas por ali. Mas nada com muita profundidade”.

Questionado se essas discussões configurariam tentativa de golpe, ele apresentou sua visão acerca do que caracterizaria um golpe de Estado: “Golpe não tem Constituição. Um golpe, a história nos mostra, você não resolve em meses. Anos”.

“Para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está a imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O ‘after day’, como é que fica?”, exemplificou em uma tentativa de se justificar.

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